O município de Vila Velha quer implantar ecopontos de triagem e separação do lixo transportado por carroceiros da cidade. A medida é a tentativa de remediar o crescimento desordenado que sobrecarregou o aterro sanitário do município. Em Xuri, onde fica a Central de Tratamento de Resíduos de Vila Velha (CTRVV), os moradores reclamam há anos do aumento do mau cheiro e do lixo transportado pelos caminhões. Lixo que muitas vezes acaba ficando pelo caminho.
A reclamação é antiga. E justificada, já que todo o lixo do município é direcionado ao aterro da CTRVV, que, segundo moradores, trouxe inúmeros prejuízos à região. Eles reclamam de rachaduras nas paredes, da velocidade e do volume de caminhões, cada dia maior.
Segundo texto publicado no site da prefeitura de Vila Velha, a intenção é separar o lixo e doar os materiais para entidades que trabalham com a reciclagem no município. O cadastramento de carroceiros também foi cogitado pela prefeitura.
Outra proposta é a construção de uma usina de beneficiamento dos resíduos sólidos gerados pela construção civil. A idéia é que os resíduos sólidos sejam reaproveitados pelo próprio setor na fabricação de novos materiais, como tijolos e paralelepípedos.
Para os especialistas, a tentativa é válida e, se efetivada, de fato, deverá melhorar o sistema de destinação de lixo no município. Mas, para isso, ressaltou o secretário de Serviços Urbanos de Vila Velha, Ricardo Chiabai, será preciso criar legislação específica para que a destinação do lixo seja feita de forma adequada para empresas e também residências.
No mesmo sentido, se reuniram esta semana os representantes da região metropolitana de Vitória para apresentar um diagnóstico de suas regiões e apresentarem projetos de reciclagem e compostagem. Participaram do debate, realizado no Ministério Público Estadual (MPES), nessa segunda-feira (26), os secretários de Meio Ambiente dos municípios em questão, membros de associações de catadores e representantes da sociedade civil organizada.
A informação é que um documento chamado “Carta de Vitória – Lixo e Cidadania” foi assinado pelos interessados, afirmando o compromisso de manejo de resíduos sólidos, coleta seletiva, formação e capacitação dos catadores de materiais recicláveis e ampliação dos recursos públicos, entre outras deliberações.
Além disso, no debate foi discutida a parcela de responsabilidade das empresas na questão de destinação final de seus próprios produtos.
A falta de coleta seletiva, segundo especialistas, é tida como um dos maiores entraves à solução do problema de lixo no Estado. Sem a coleta, fica sem base o processo de reciclagem, o que gera a sobrecarga dos aterros sanitários existentes.
Uma iniciativa do vereador Sérgio Magalhães (PSB) chegou a ser debatida com a sociedade e com a Associação de Catadores de Material Reciclável de Vitória. Entretanto, até o momento a situação entre os catadores e a coleta seletiva continua a mesma. Os catadores reclamam das condições de trabalho, da falta de locais para a coleta de materiais separados e da falta de empresas para receber o material a ser reciclado.
Sem isso, alertam os catadores, o ciclo não se completa e boa parte do lixo vai parar nos lixões. Atualmente, alertam os ambientalistas, mesmo que seja separado grande parte do lixo produzido por Vitória vai parar em lixões.
A informação em 2006 era de que apenas 5,74% dos catadores de lixo são organizados; 80,39% são ligados a ferro velho ou sucateiros, e 13,87% são autônomos, ou seja, possuem seu próprio carrinho para catar o lixo e vender para quem lhes oferecer mais dinheiro.
Portanto, além de cadastrar catadores, alertam os especialistas, é necessário também cadastrar as gaiolas (caminhões que exercem a mesma função) e os serviços terceirizados, que catam os lixos em bairros com coleta seletiva.
Todo o processo de coleta, ressaltam os ambientalistas, movimenta não só os catadores, mas transporte e indústrias, que não geram riqueza para o Estado, exatamente por não terem uma estrutura sólida para tal função. Para eles, organizar esta cadeia é automaticamente beneficiar os catadores, formando cooperativas, efetuar estudos para novos investimentos na área, beneficiar as pequenas empresas capixabas, gerar empregos, profissionalizar a categoria, além de dinamizar a economia de lixo reciclável local.
Para cada tonelada de papel reciclado, evita-se a derrubada de 16 a 30 árvores adultas, em média. A cada cem toneladas de plástico reciclado, é dispensada a extração de uma tonelada de petróleo e a economia gira em torno de 90% de energia. Com 10% de vidro reciclado, a economia de energia é de 4% e há uma redução de 10% no consumo de água.
Na Grande Vitória, existem apenas três organizações na área de lixo seco, ou reciclável. São elas Associação dos Catadores de Material Reciclável de Vitória (Ascamares), Associação dos Catadores de Material Reciclável de Vila Velha (Ascavive) e Recuper-lixo, situada no município da Serra. Dos 627 catadores de lixo registrados, apenas 49 estão associados a uma destas organizações.
A coleta seletiva, além de retirar o lixo das ruas e dos rios, permite selecionar materiais orgânicos e produzir compostos para uso na adubação. E em favor da coleta seletiva está também o fato de que, para os aterros sanitários, só iriam os matérias inertes, como terra, entulhos, restos de madeira, plásticos, que não pudessem ser reciclados. Ainda assim, sempre haverá sobra de material não aproveitável: o máximo de aproveitamento do lixo é de 80%, com um trabalho bastante rigoroso de seleção.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 27/04/2010)