De repente, não mais que de repente, a imprensa abandonou a polêmica sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu. Depois de acompanharem com especial atenção o leilão do dia 20/4, no qual uma intricada conjunção de interesses acabou por superar a torrente de recursos judiciais que ameaçavam bloquear a escolha do consórcio vencedor, os jornais apenas registraram, no sábado (24/4), que a construtora OAS resolveu se integrar ao projeto e que outras grandes empreiteiras, como Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, poderiam ainda voltar a participar da construção.
Entre as revistas semanais de maior circulação, Época decidiu pela cautela e fugiu do assunto em sua edição desta semana. Muito provavelmente, seus editores consideraram a possibilidade de o tema evoluir depois que a revista fosse para a gráfica, o que realmente ocorreu, o que deixaria qualquer tentativa de reportagem sob risco de ser desmentida ou desatualizada imediatamente após a publicação.
Veja resolveu arriscar e apostou num texto de crítica ao governo, afirmando que as incertezas durante o leilão haviam deixado de fora os maiores grupos privados, teoricamente mais capacitados para tocar a obra.
Veja errou. No final da tarde de sexta-feira (23/4), a reportagem já estava superada, grandes grupos confirmavam seu interesse na construção da usina e todos os argumentos alinhados pela revista ficavam sem fundamento.
No ar
O assunto voltou nas edições dos jornais de segunda-feira (26), mas com muito menos repercussão do que na semana anterior, quando se manteve em destaque durante quase todos os dias. Volta por conta de uma manifestação da senadora Marina Silva, pré-candidata à Presidência da República, em seu artigo na Folha de S.Paulo.
Marina, que uma semana antes havia declarado publicamente não ter opinião formada contra a construção da usina, defende uma reestruturação do sistema elétrico nacional, em busca de maior eficiência e menos desperdício, antes da retomada de grandes obras.
Fora isso, nenhuma linha nos jornais.
De repente, o debate esvaiu-se no ar.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, Envolverde, 26/04/2010)