Secretário adjunto da Justiça afirma que indícios de ocupação indígena até agora são insuficientesAtônita desde que veio a público a informação de que a Fundação Nacional do Índio (Funai) estuda criar uma reserva indígena no antigo terreno da Ford, a comunidade de Guaíba pode ficar mais aliviada. Se depender do Ministério da Justiça, a área seguirá livre para receber um distrito industrial.
– Todos os indícios apresentados até agora são absolutamente insuficientes para afirmar que ali tem área indígena. Encerra-se aqui essa especulação – disse o secretário executivo adjunto do ministério, Ronaldo Teixeira.
Em agosto do ano passado, a Funai designou um grupo técnico para identificar e delimitar três áreas indígenas – Arroio do Conde (terreno da Ford), Petim e Passo Grande. O relatório final deve ser encaminhado até 30 de junho. Segundo Teixeira, a análise foi encomendada depois da última tentativa de ocupação do local por um grupo de indígenas, em 2008.
Prefeito quer posição da Funai por escrito
Após uma conversa ontem com o presidente da Funai, Márcio Meira, o secretário do Ministério da Justiça foi enfático ao afirmar que a antropóloga Maria Paula Prates, que coordena os estudos em Guaíba, “não fala em nome da fundação”. Na sexta-feira, ela afirmou em entrevista a Zero Hora que há registros de grande ocupação da etnia mbya guarani no Arroio do Conde na década de 1970.
Ao receber ontem do ministério a garantia de que a área da Ford não será demarcada, o prefeito de Guaíba, Henrique Tavares (PTB), disse que irá cobrar uma resposta por escrito da Funai. Sua intenção é apresentá-la amanhã aos representantes das seis empresas que já confirmaram a instalação no distrito industrial. O encontro estava agendado antes de a polêmica vir à tona.
Vinte e oito dias depois de anunciar o distrito industrial, a governadora Yeda Crusius pediu bom senso ontem:
– Você tem diversas formas de respeitar todo o aparato legal que trata dessa questão da minoria indígena, mas não às custas da maioria por um projeto de desenvolvimento que restaurou aquele entristecido e sofrido terreno da Ford, como um terreno de desenvolvimento para muitas outras empresas.
Vaivém da área
- A Ford anuncia em 1997 a intenção de montar uma planta no RS, para lançar o carro Amazon.
- Em março de 1998, o governo Antônio Britto assina um contrato oferecendo incentivos especiais para a empresa. Um terreno em Guaíba é escolhido.
- Olívio Dutra, sucessor de Britto, discute o contrato da Ford, que encerra negociações em abril de 1999.
- Em março de 2010, Yeda Crusius (PSDB) anuncia que a área receberá um distrito industrial.
- A Funai avalia se a área abrigou no passado uma comunidade indígena.
(Zero Hora, 27/04/2010)