Os agricultores africanos estão sob risco de serem forçados a deixar suas terras por pressão de investidores ou projetos do governamentais que ‘estimulam’ mudanças na cultura do cultivo, visando o atendimento da demanda global por biocombustíveis
Pesquisa [Biofuels, food security and Africa] da Universidade de Edimburgo identificou que os meios de subsistência podem ser colocados em risco se as terras ferteis africanas, atualmente destinadas à agricultura de subsistência ou de atendimento à demanda local por alimentos, for convertida para o cultivo de biocombustíveis.
Com uma crescente pressão para encontrar alternativas de substituição aos combustíveis fósseis a produção mundial de biocombustíveis triplicou entre 2003 e 2007 e a previsão é dobrar novamente em 2011. Na África, Malawi, Mali, Mauritânia, Nigéria, Senegal, África do Sul, Zâmbia e Zimbabwe adotaram estratégias pró-biocombustível nacional.
Os pesquisadores estimam que a alocação de terras para a produção de biocombustíveis, pelos projetos do governo ou investidores internacionais poderia significar que a população rural pobre seria forçada a abandonar suas terras ancestrais.
Acrescentam que os projetos de biocombustíveis também fazem parte de um comportamento “neocolonial”, com os países ricos adquirindo vastas extensões de terras em países pobres (deslocalização agrícola) . Em Madagascar, a empresa sul-coreana Daewoo Logistics tentou comprar uma área equivalente a do tamanho da Bélgica para instalação uma megafazenda para produção de milho e óleo de palma para biocombustíveis.
Organizações como o Banco Mundial afirmam que desviar terras para produzir biocombustíveis tem contribuído para a subida dos preços dos alimentos, que forçaram milhões na pobreza.
Segundo os pesquisadores, a ameaça que o aumento da produção de biocombustíveis representa para a segurança alimentar é particularmente séria na África, onde o alimento já é escasso e a segurança alimentar é insuficiente.
O relatório “Biofuels, food security and Africa” (Os biocombustíveis, segurança alimentar e África, em tradução livre)”, será publicado na edição de julho da revista African Affairs.
(Por Henrique Cortez, EcoDebate, 26/04/2010, com informações de Ed Nash, University of Edinburgh)