Milhares de manifestantes da cidade argentina de Gualeguaychú protestaram neste domingo, na ponte que leva ao Uruguai - bloqueada desde 2006 - contra a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ) que avaliou a presença de uma fábrica de pasta de celulose sobre o rio Uruguai, fronteira entre os dois países.
Os manifestantes exigiram o "desmantelamento da Botnia-UPM" e exigiram que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, trabalhe para isso, e que o presidente uruguaio, José Mujica, "peça perdão, porque o Estado que dirige violou o Tratado do Rio Uruguai e gerou esse conflito". Os pedidos foram expressos em um documento assinado pela Assembleia Popular Ambiental de Gualeguaychú, que também questiona Cristina Kirchner sobre se ela "realmente acredita que outra fábrica de pasta de celulose não vai se instalar nas margens do rio caso nenhum castigo seja imposto à Botnia-UPM".
Os manifestantes criticaram o tribunal internacional pela ausência de sanções à fábrica, na decisão anunciada na última terça-feira. "Na Europa, os ilegais são expulsos, mas para Haia, os ilegais na América do Sul ficam", disse uma manifestante. O documento considera a decisão "desumana e perversa" porque condena os habitantes da bacia do rio Uruguai "a conviver com a agressão e contaminação permanente".
Segundo o texto, nos dois primeiros anos de funcionamento, a fábrica produziu 36,8 mil t de tóxicos que afetam o meio ambiente da região. O grupo critica ainda o fato de o pronunciamento da CIJ não ter mencionado a Finlândia, país ao qual atribui responsabilidade de primeira ordem na controvérsia.
Os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Uruguai, José Mojica, terão uma reunião em Buenos Aires na próxima quarta-feira para tentar melhorar as relações bilaterais, prejudicadas nos últimos anos por essa controvérsia, considerada resolvida após o pronunciamento da CIJ.
O tribunal internacional confirmou a permanência da fábrica no local depois de considerar que não havia provas que comprovassem a contaminação do meio ambiente, enfatizando, no entanto, que Montevidéu não cumpriu com seu dever de informar o governo argentino sobre o empreendimento, que entrou em funcionamento no final de 2007. A CIJ não se pronunciou sobre o bloqueio do tráfego na ponte binacional.
Uma assembleia popular que deliberará em Gualeguaychú nesta semana decidirá se o bloqueio será mantido.
(Terra, 25/04/2010)