A população da província de Islay, na região de Arequipa, Peru, se manterá vigilante para garantir que o governo cumpra os acordos firmados na terça-feira (20), em uma mesa de diálogo, acerca do projeto mineiro Tia Maria. Entre os principais acordos está o de suspender o projeto por noventa dias para que seja revisado o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela Southern Peru.
A mesa diálogo foi realizada entre representantes da população de Islay, autoridades locais e regionais e uma comissão do governo, em que esteve à frente Javier Velásquez Quesquén, Presidente do Conselho de Ministros.
Na ocasião, além da suspensão, por 90 dias, do EIA do projeto Tia Maria, o governo se comprometeu em declarar intocáveis as águas subterrâneas e superficiais da bacia do Valle del Tambo, já que a Southern Peru planejava extrair águas subterrâneas do rio Tambo a vazão de 224 litros por segundo e construir quatro poços de abastecimento e dois de reserva. O governo também deverá fazer uma chamada, antes de noventa dias, para que o governo central e o governo regional construam uma represa.
Durante o tempo em que o projeto de mineração estiver suspenso as organizações de Islay deverão preparar as provas de inviabilidade social, econômica, cultural e ambiental do projeto Tia Maria na região.
Em comunicado divulgado ontem (21) pela Caoi, a Coordenadora noticiou que José Julio Gutiérrez, integrante da Frente de Defesa do Meio Ambiente, do distrito de Cocrachacra, denunciou que ele e mais dois dirigentes de Islay foram denunciados falsamente por incentivar a população a levar paus e facões para as mobilizações e para a ocupação da rodovia Panamericana Sur. Informou ainda que dois dirigentes estão com ordem de prisão.
Gutiérrez também culpou a polícia por desocupação violenta e invasão de domicílio para realizar prisões indiscriminadas. "Democracia não é reprimir ao povo, é indispensável uma política de prevenção de conflitos e que o governo respeite nosso direito à livre determinação, a eleger nosso modelo de desenvolvimento e a viver em paz, direitos reconhecidos pela Constituição e pelas normas legais", afirmou o dirigente.
Caso os acordos firmados entre as organizações de Islay e o governo não sejam cumpridos, a população de toda a região de Arequipa promete se unir para retomar a luta contra o projeto mineiro. Segundo comunicado da Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (Caoi), a iniciativa de mobilização contra o projeto já tem a adesão de quatro prefeitos provinciais de Arequipa.
Magdiel Carrión Pintado, vice-presidente da Confederação Nacional de Comunidades do Peru Afetadas pela Mineração (Conacami); Manuel Jugo, diretor da Associação Pró Direitos Humanos (Aprodeh) e Luis Isarra, secretário de defesa da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP) também apoiam a causa da população de Islay na defesa de seus direitos territoriais e na escolha das formas de desenvolvimento para a região.
Segundo informações da Caoi, Islay é a província com mais concessões mineiras em Arequipa, tendo 55,8% de seu território concessionado. Cocrachacra, um dos seis distritos de Islay, tem 62,5% de seus territórios concessionado para dez empresas de mineração.
(Por Natasha Pitts, Adital, 23/04/2010)