Em mais uma fagulha na polêmica da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem a hipótese de dar à usina caráter 100% estatal. – Nós, enquanto Estado brasileiro, empresa pública, faremos sozinhos se for necessário – afirmou Lula depois de almoço no Itamaraty com o presidente do Líbano, Michel Sleiman.
Ao responder sobre o risco de desistência de alguns integrantes do consórcio Norte Energia, que venceu o leilão de terça-feira, o presidente reforçou que não há preocupação com a formação do grupo:
– No leilão, entra quem quer e sai quem quiser. Não tem nenhum cadeado na porta. Não tem problema.
Lula reclamou das críticas sobre o suposto interesse eleitoral na obra:
– Quem não fez política fez o apagão. As usinas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio são coisas que nossos adversários torcem para não dar certo.
Apesar da ameaça de assumir a obra, o governo estaria articulando a entrada das construtoras Odebrecht e Camargo Corrêa no consórcio de Belo Monte. O presidente teria orientado dirigentes da Chesf, estatal que lidera o consórcio, a negociar a participação dos dois grupos na sociedade que vair construir e gerenciar a usina.
Ambas desistiram do leilão, alegando falta de competitividade do empreendimento. O governo admitiu contratá-las como construtoras, dada a experiência em obras desse porte. Agora, tenta que integrem o consórcio.
Um comunicado em nome de 62 líderes de 16 tribos indígenas da região entre São Félix do Xingu e Novo Progresso, no Pará, afirma: “Nosso açougue é o mato, e nosso mercado é o rio. Não queremos mais que mexam nos rios do Xingu e nem ameacem mais nossas aldeias e nossas crianças, que vão crescer com nossa cultura”.
Na área jurídica também não há sinais de pacificação. O Ministério Público Federal entrou com recurso contra a cassação da segunda liminar que suspendeu o leilão, para tentar anulá-lo.
(Zero Hora, 23/04/2010)