O presidente Lula disse ontem que, se necessário, o Estado fará sozinho a obra de construção da usina de Belo Monte, na Bacia do Rio Xingu, na parte paraense. Ele respondia ao questionamento sobre possíveis desistências de empresas que participaram do consórcio vencedor.
Lula defendeu o leilão realizado (o consórcio vencedor é liderado pela estatal Chesf), afirmando que os críticos reclamam até do baixo preço fixado para a energia. Para o presidente, as empresas podem entrar ou sair do empreendimento. "Não tem nenhum cadeado na porta. Tem várias portas: quem quiser entrar, entra; quem quiser sair, sai, não tem problema", salientou, afirmando que está fazendo política. "Quem não quis fazer política, fez o apagão", disse.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou, porém, não ter recebido qualquer tipo de notificação sobre a desistência de empresas que participam do consórcio Norte Energia, vencedor do leilão da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Nota oficial divulgada pelo Grupo JMalucelli nega os rumores de que não teria interesse em continuar no consórcio vencedor - a empresa detém 9,98% no consórcio. O possível afastamento da construtora Queiroz Galvão (com 10,02%) do consórcio não havia sido oficialmente confirmado até ontem.
O presidente ainda ironizou as críticas ao leilão de Belo Monte, dizendo que o argumento dos "contra" foi falar que o preço foi barato. "Achei isso fantástico. E estamos dando conta da questão ambiental. São R$ 3,5 bilhões do custo do projeto para impacto ambiental", destacou Lula. Na avaliação do presidente, este foi um grande leilão, porque não houve uma empresa impondo o preço que quer pagar.
Pouco antes do leilão, a Eletrobras mandou um recado para os dois consórcios em disputa, determinando que a taxa de retorno do empreendimento deveria ser de apenas 8% - valor bem abaixo dos 12% esperados pelas empresas privadas. Diante da exigência, e temendo prejuízos com a obra, o consórcio Belo Monte Energia, liderado pela construtora Andrade Gutierrez, decidiu por uma proposta conservadora, enquanto a estatal Chesf apostou na rentabilidade menor.
(Correio do Povo, 23/04/2010)