Cientistas de Bangladesh fizeram um novo desafio ao IPCC (painel climático da ONU), afirmando que as previsões apocalípticas do órgão sobre o quanto o país asiático seria inundado por uma elevação do nível do mar foram exageradas.
O aviso ajudou a criar um consenso amplo de que o país, que quase não tem áreas elevadas, estava na "linha de fogo" da mudança climática. Mas um novo estudo argumenta que o IPCC ignorou o papel que os sedimentos desempenham para contrabalançar a elevação dos níveis do mar.
Rajendra Pachauri, indiano que coordena o IPCC, defendeu as previsões de sua organização, advertindo que "não se pode traçar conclusões com base em um único estudo. O IPCC avalia um espectro de publicações antes de adotar uma visão equilibrada sobre o que provavelmente vai ocorrer".
Toneladas
Segundo o novo estudo, financiado pelo Banco de Desenvolvimento Asiático, as previsões do IPCC não levam em conta as toneladas de sedimento -- cerca de 1 bilhão -- carregadas pelos rios do Himalaia até Bangladesh todos os anos.
"Os sedimentos moldam a costa de Bangladesh há milhares de anos", disse Maminul Haque Sarker, diretor do Cegis (sigla inglesa de Centro de Serviços de Informações Ambientais e Geográficas), que coordenou a pesquisa. "Os estudos sobre os efeitos da mudança climática em Bangladesh, inclusive os citados pelo IPCC, não consideram o papel dos sedimentos no crescimento e nos processos de ajuste da costa e dos rios do país."
Mesmo se a elevação do nível do mar chegar a um metro, o novo estudo indica que a maior parte da costa de Bangladesh continuará intacta, diz Sarker. "A maior parte da costa, em especial o estuário de Meghna, que é um dos maiores do mundo, deve se erguer no mesmo ritmo que o aumento do nível do mar. O grande desafio será descobrir como gerenciar esses depósitos de sedimentos e usá-los para ajudar Bangladesh a enfrentar os efeitos da mudança climática."
As predições anteriores do Cegis sobre o número de pessoas que provavelmente ficarão sem teto todo ano por causa de enchentes nos dois principais rios himalaios, o Ganges e o Brahmaputra, tiveram precisão de 70%, de acordo com avaliação feita pelo próprio centro.
(France Presse, Folha Online, 22/04/2010)