O Uruguai não será obrigado a desmontar uma fábrica de pasta de celulose na fronteira com a Argentina, apesar de ter violado um tratado assinado em 1975 entre os dois países, decidiu ontem o Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, na Holanda. A Argentina havia iniciado em 2006 uma ação na corte ligada à ONU pela retirada da fábrica UPM na localidade uruguaia de Fray Bentos, em frente à cidade turística argentina de Gualeguaychú.
O governo argentino alegava que a UPM, antes chamada Botnia, de capital finlandês, poluiria o rio Uruguai e afetaria o turismo local e pediu uma indenização, além da interrupção das atividades da fábrica. Ambos os pedidos foram negados.
Segundo o juiz responsável pelo caso, o eslovaco Peter Tomka, a Argentina não comprovou que a fábrica polui o rio e concluiu que "não há motivos para a suspensão das operações" da indústria. Apesar do parecer favorável ao Uruguai, o Tribunal condenou a conduta do governo uruguaio, que falhou em consultar a Argentina sobre a construção da fábrica. Foi decidido ainda que, pelo acordo de 1975, os dois países deveriam controlar a qualidade do rio. A representante do governo argentino nesta disputa, Susana Ruiz Cerutti, disse estar "satisfeita" com a decisão. "O Uruguai não poderá mais realizar nenhum projeto, de agora em adiante, de forma unilateral", disse Susana. Mas manifestantes argentinos concentrados em Gualeguaychú afirmaram que vão manter o bloqueio, iniciado há mais de quatro anos, no acesso à ponte San Martín, que liga os dois países, próximo à fábrica.
Em Punta del Este, o chanceler do Uruguai, Luis Almagro, anunciou ontem que entrará em contato com seu colega argentino, Jorge Taiana, para marcarem um encontro entre os presidentes José Mujica e Cristina Kirchner.
(Correio do Povo, 21/04/2010)