A remoção de 38 árvores da Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre, gerou protestos da população, preocupada com a área situada no coração da cidade. Em e-mail ao colunista Paulo Sant’Ana, publicado na edição de ontem, a professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marília Levacov, 58 anos, criticou a proposta do projeto Monumenta de reconstruir o visual original da praça a partir da “destruição” do espaço verde.
O secretário municipal interino da Cultura e coordenador da Memória Cultural, Luiz Antônio Custódio, creditou a retirada de parte da vegetação à necessidade de melhorar a segurança e as condições de infraestrutura do local. A seguir, Zero Hora apresenta os principais trechos da carta de Marília e a resposta da prefeitura.
A praça original
O que diz Marília: “O Projeto Monumenta, da prefeitura de Porto Alegre (...) visa supostamente a restituir (não sei com qual vantagem) o visual da Praça da Alfândega ao seu original, do início do século 20, quando não se sabia ainda da importância das árvores no projeto urbano das cidades.”
O que diz Custódio: Ele explica que a Praça da Alfândega foi concebido como um jardim clássico, construído em 1912. Pela falta de podas, as cercas-vivas se tornaram árvores imensas – além disso, espécies exóticas surgiram e encobriram os tradicionais jacarandás existentes no local. As canalizações subterrâneas e a pavimentação acabaram seriamente prejudicadas pelo crescimento desenfreado e o descaso com a manutenção. Apesar da ideia de reconstruir o passeio original da praça (danificado e impedido por árvores que cresceram ao longo do tempo), Custódio diz, ainda, que o espaço não voltará a ser exatamente como antes.
Os tapumes
O que diz Marília: “... o projeto cercou a praça (que sempre foi abandonada pela prefeitura) com um muro metálico de dois metros de altura e, assim, às escondidas, dedicou-se a cortar sitematicamente mais de duas dezenas de árvores da praça, algumas centenárias.”
O que diz Custódio: Segundo ele, os tapumes colocados ao redor da praça são uma exigência para a realização de obras, uma vez que existem diversos perigos envolvidos, como aberturas no chão e redes elétricas expostas.
Remoção
O que diz Marília: “Todas as árvores (algumas com mais de 30 anos) de ambos os lados da Avenida Sepúlveda, entre o Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul) e o Memorial, foram serradas e destruídas (sequer removidas para um outro lugar).”
O que diz Custódio: O secretário interino da Cultura afirma que o transplante de árvores muito antigas pode ser caro e inviável. Como compensação às remoções, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) garante o plantio de 139 novos vegetais no Centro. Em agosto do ano passado, foram realocadas 10 palmeiras originais do espaço, antes do início dos trabalhos de remodelação da praça.
O objetivo
O que diz Marília: “Todas as cidades em locais mais instruídos dedicam-se a criar espaços verdes ou aumentar os existentes. Nossa prefeitura os destrói, agora sob a desculpa de que vai criar um ambiente mais autêntico.”
O que diz Custódio: Ele ressalta a necessidade de restaurar as condições da infraestrutura da praça, incluindo bancos, luminárias, pavimento e até uma área de recreação infantil.
– Virou uma praça muito fechada, sem entrada de luz. Algumas árvores secaram e representam perigo aos frequentadores do local – aponta.
Sobre o Monumenta
- Abrange uma área central da cidade com 24,5 hectares, dentro dos quais estão situados 170 imóveis públicos e privados que compõem o patrimônio a ser preservado na cidade
- Os recursos utilizados nas reformas são do Ministério da Cultura, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e das administrações do município e do Rio Grande do Sul, contando com a cooperação da Unesco
- Obras em monumentos: Palácio Piratini, Pinacoteca, Biblioteca Pública, Museu de Comunicação Social Hipólito da Costa, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Memorial do Rio Grande do Sul, Pórtico Central do Cais do Porto, Igreja das Dores.
- Obras em espaços públicos: Praça da Matriz, Praça da Alfândega e algumas vias do Centro.
- Também são realizadas restaurações em imóveis privados que tenham um reconhecido valor histórico.
(Zero Hora, 21/04/2010)