Quando terminou a tão divulgada Cúpula de Segurança Nuclear, no início da semana passada, em Washington, ficaram muitas perguntas no ar. “Os Estados Unidos cobrarão que Israel declare seu programa de armas atômicas e pedirão que assine o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNPN)? O governo de Barack Obama convencerá a Índia e o Paquistão a aderirem a esse acordo? Sobre estes três países, os Estados Unidos conseguiram pouco ou nenhum avanço na reunião sem precedentes realizada na capital norte-americana, cujo objetivo principal foi discutir medidas para reduzir o estoque de material atômico vulnerável, que possa cair em mãos de organizações terroristas.
“A cúpula alcançou acordos úteis em assuntos como garantir a segurança, dentro de quatro anos, de todos os materiais nucleares que possam ser usados como explosivos, fortalecer a segurança nas instalações atômicas e reduzir o uso e a circulação de urânio altamente enriquecido”, disse John Burroughs, do Comitê de Advogados sobre Política Nuclear, com sede em Nova York. “Porém, já que em Washington estavam representados 47 governos, a maioria por seus chefes de Estado, perdeu-se uma oportunidade única para começar a limpar por completo o mundo das armas nucleares”, acrescentou.
Como disse a maioria das informações na imprensa, Obama “evitou” as questões referentes ao arsenal nuclear de Israel. “Não farei comentários sobre o programa” atômico israelense, disse claramente ao ser consultado por jornalistas. “O que vou assinalar é o fato de que sistematicamente exortamos todos os países a serem membros do TNPN. Assim, não há contradições aqui”, afirmou o mandatário. “E, portanto, quando falamos sobre Israel ou outro país pensamos que fazer parte do TNPN é importante. E isso, diga-se de passagem, não é uma postura nova. Tem sido a posição constante do governo dos Estados Unidos, inclusive antes da minha administração”, ressaltou Obama.
O próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu decidiu na última hora não participar da cúpula por medo de que o plano secreto de desenvolvimento atômico de seu país fosse questionado. Mas isso não ocorreu. Índia, Israel e Paquistão, três potências nucleares não declaradas, negam-se a assinar o TNPN, como fizeram as cinco potências declaradas e integrantes permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas: China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia. Está prevista conferência de um mês de duração, a partir de 3 de maio, na sede da ONU para revisão to TNPN.
“Como é a posição usual dos Estados Unidos, Obama não comentou sobre as armas atômicas de Israel”, disse Burroughs à IPS. O que tampouco se disse na cúpula de Washington foi que conseguir deixar o Oriente Médio livre de armas atômicas será vital para que a conferência de maio termine com um acordo, acrescentou. Uma proposta agora seriamente discutida, acrescentou, é que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convoque uma conferência para lançar um processo de desarmamento específico para essa região.
Consultado sobre o plano nuclear paquistanês, Obama foi suave: “Não creio que o Paquistão esteja jogando com regras diferentes. Acredito que fomos muito claros com esse país, assim como com todas as nações, sobre pensarmos que devem se integrar ao TNPN”. Inclusive, disse ver “progressos nos últimos anos a respeito dos temas de segurança paquistaneses”. “Acredito que é positivo o fato de o primeiro-ministro paquistanês, Yousuf Raza Gilani, ter vindo aqui, assinado um comunicado e assumido uma série de compromissos que tornarão mais factível não vermos atividades de proliferação nem tráfico no Paquistão”, afirmou.
“Temos mais trabalho pela frente? Claro que sim, mas penso que a presença do primeiro-ministro Gilani foi um passo importante para garantir que não veremos uma crise atômica em nenhuma parte da Ásia meridional”, acrescentou Obama. Por outro lado, adotou postura relativamente dura contra a Coreia do Norte e seus testes e contra o Irã, acusado de querer produzir armas atômicas. Burroughs disse à IPS que tanto Índia como Paquistão produziam materiais físseis para fabricar armas nucleares.
Por outro lado, o Comitê de Advogados sobre Política Nuclear anunciou que a sociedade civil aproveitará a reunião de maio para lembrar aos delegados que todos os países com poder atômico, dentro ou fora do TNPN, parecem determinados a manter seu arsenal como elemento dissuasivo, e que a visão de um mundo sem estas armas ainda é um sonho.
(Por Thalif Deen, IPS, Envolverde, 19/4/2010)