O primeiro dos estudos foi realizado pela Secretaria de Agricultura do Paraná - SEAB na safrinha de 2009 e teve como objetivo monitorar a contaminação do milho comum pelo transgênico (detalhes abaixo). Foi comprovada contaminação das espigas do milho convencional variando de 0,1% a mais de 5% dependendo da distância. A lavoura convencional estava isolada da transgênica por uma bordadura de 25 metros de milho comum. Na maior das distâncias testadas, 120 metros, foram encontrados grãos com 1,3% de contaminação.
A situação avaliada a campo era mais rigorosa do ponto de vista de isolamento entre os diferentes tipos de milho do que a regra criada pela CTNBio, que determina bordadura de 10 metros de milho convencional mais 20 metros de terreno limpo, ou, alternativamente, 100 metros limpos. Ou seja, a SEAB mostrou que a regra da douta comissão de nada serve para evitar a contaminação do milho. Azar dos consumidores e produtores que não querem transgênicos.
Quando da publicação da regra que criou o ineficaz isolamento do milho, a CTNBio foi bastante criticada, inclusive internamente, pois já se sabia que os critérios adotados padeciam de sustentação técnica. Mas a maioria de seus experts formou convicção a partir de estudo feito na Espanha a pedido de setores da biotecnologia. Segundo este, a 20 metros a contaminação seria menor que 1%. A SEAB encontrou de 4,4% a 90 metros. O Ministério da Agricultura, por sua vez, informou que a contaminação seria de 0,002 a 120 metros. A SEAB encontrou 1,3% nesta distância.
O segundo estudo foi realizado pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA, órgão ligado à Academia Nacional de Ciências do país, com o objetivo de ser a mais ampla das revisões já feitas sobre os impactos decorrentes do plantio de transgênicos. Sua principal conclusão foi a de que o meio ambiente e os produtores puderam desfrutar substanciais vantagens resultantes do plantio das sementes modificadas, mas que o uso repetido da tecnologia ameaça erodir esses ganhos.
Professor da Universidade de Portland e presidente do comitê que elaborou o estudo, David Ervin ressalta que esses ganhos não são universais a todos os produtores e nem permanentes. Como há muito frisamos neste boletim, o relatório também afirma que ao longo do tempo cresce o uso de herbicidas à base de glifosato e também o emprego de outros produtos ainda mais tóxicos.
O pesquisador do Organic Center Charles Benbrook revisou uma das versões preliminares do estudo e criticou o fato de a maioria dos dados usados serem relativos aos anos iniciais de adoção da tecnologia. Isto é, antes da proliferação de seus problemas, como o mato resistente ao herbicida, e antes da disparada dos preços das sementes transgênicas.
Tanto as empresas vinham abusando da dobradinha quase-monopólio e preços altos, que o feitiço começou a virar contra o feiticeiro. Os produtores estadunidenses passaram a questionar a validade de seguir plantando essas sementes. A dúvida gerou diminuição nas vendas de sementes e a Monsanto nos Estados Unidos anunciou na semana passada que reduziria o preço de suas novas sementes transgênicas.
A CTNBio, quando liberou a soja da Monsanto, afirmou que “A introdução de cultivares tolerantes ao Glifosate não aumentará a pressão de seleção sobre as plantas daninhas, em termos de concentração do Glifosate (produto/área)”, ou seja, disse que o desenvolvimento de mato resistente não levaria os produtores a usarem cada vez mais veneno para controlá-lo. Mesmo antes do advento dos transgênicos já era amplamente sabido que o uso repetido de um determinado agrotóxico sobre uma planta ou um inseto qualquer o leva a desenvolver resistência com o tempo.
Nem para o caso da contaminação do milho, nem para o uso crescente de herbicidas pode-se dizer que a CTNBio errou. Fosse erro ou faltassem a seus integrantes informações como essas, eles correriam para corrigi-los. Enquanto isso, o governo segue com sua conivente omissão.
(Por um Brasil ecológico, livre de transgênicos e agrotóxicos, número 485, 17 de abril de 2010, da AS-PTA, IHU-Online, 19/04/2010)