Os tempos são outros e a mentalidade dos fazendeiros da Amazônia aos poucos começa a mudar. A agropecuária fez o desmatamento avançar sobre a floresta, mas formas de recuperação têm surgido para compensar o estrago que foi feito.
Everton Melchior, produtor de soja em Mato Grosso, por exemplo, tem um projeto do qual se orgulha muito: a recuperação da mata original em uma área de nascente de água. “Há 5 anos não existia essa água que tem aqui hoje. Vai ser água com correnteza forte aqui, se Deus quiser”, diz.
Melchior plantou mogno, cedro, jatobá, aroeira, pau-brasil. Ele fez isso não só para se enquadrar na lei ambiental, mas também por razões econômicas. Ao recuperar as reservas de água, a soja vai render mais.
No estado do Pará, Massao Ozaki, pioneiro da Amazônia, agora vive de reflorestamento de dendê, e diz que a ocupação predatória de 40 anos atrás virou crime e não é mais viável economicamente: “O modelo dos colonos naquela época ele derrubava um alqueire de terra, plantava o arroz, aí outro ano ele derruba outro alqueire de terra, aqui virava capoeira”.
Fazendeiros que respeitam o meio ambiente se ressentem com a imagem negativa que ficou. “Quando fomos chamados pra vir, fomos chamados com o lema que era ‘integrar pra não entregar’. Quem veio naquela época, na década de 60, 70, era um herói. E hoje nós somos considerados bandidos”, queixa-se o fazendeiro Mauro Lúcio de Castro Costa.
A compreensão sobre a Amazônia passou por fases distintas. Até as décadas de 70 e 80, a floresta era vista como terreno a ser conquistado e explorado intensivamente. Depois, quando se despertou para a importância da biodiversidade da floresta passou-se para o extremo oposto, toda esta área deveria permanecer intocada. Agora surge uma nova visão, a da exploração econômica racional da Amazônia. Será que é possível gerar riqueza sem destruir a floresta?
Intensificação
O ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, acredita que sim. “Temos que reduzir a quantidade de gado nos pastos, trazendo para confinamentos ou semi-confinamentos, e liberar esses espaços para a agricultura, que hoje é da pecuária. Ao mesmo tempo, não deixar com que a pecuária avance sobre novas áreas da floresta”
A pecuária será vigiada pelo mercado, prevê o ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com base num acordo com supermercados para banir a carne de desmatamento. “No segundo semestre desse ano, carne originada de desmatamento tanto da Amazônia quanto do cerrado, do Pantanal, vai estar fora das prateleiras dos supermercados. Acho isso mais eficaz do que muitos fiscais e muitos policiais”, aponta Minc.
Madeira
A madeira vai se tornar mais rara e mais cara, de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que usa imagens de satélite para caçar madeireiros ilegais.
“Tem um grande Big Brother que permite o setor madeireiro ser vigiado de todos os lados. Vai ficar muito difícil o madeireiro se esconder do satélite. Ele vai localizar onde tem exploração ilegal, essa informação vai para o governo, vai para os órgãos de fiscalização, vai para a imprensa e vai ter uma pressão muito grande pra coibir qualquer exploração ilegal que tenha na Amazônia”, prevê Adalberto Veríssimo, pesquisador-sênior e coordenador de pesquisas do Imazon.
“Temos agora que provar para o mundo que somos bons gestores da floresta amazônica. Isso não significa manter a floresta intocada e o povo pobre. Também não significa desenvolvimento a qualquer custo, desmatar a floresta. É o equilíbrio que poucos países no mundo conseguiram. A maioria que tinha floresta não conseguiu. Estamos em busca de algo inédito. O Brasil tem as condições para isso. Agora, precisamos avançar” conclui Justiniano de Queiroz Netto, diretor-executivo da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará.
(Globo Amazônia, com informações do Jornal Nacional, 17/04/2010)