Belo Monte começou a ser pensado em 1975. E mesmo o governo militar não teve coragem de fazer, porque é uma obra complexa, cheia de incertezas. Eles mudaram o projeto original que, inicialmente, previa sete usinas daquelas antigas.
O projeto atual, de uma, usa uma tecnologia diferente, que alaga menos: em vez de 1.500 quilômetros quadrados, serão 516 quilômetros quadrados. Qual é a desvantagem? Para quem produz, essa tecnologia não dá segurança, porque a energia firme fica baixa. Ela tem 11 mil MW, mas de energia firme, serão 4 mil MW, em média. Em alguns meses, pode ser só 1 mil MW, porque os rios amazônicos são diferentes: a vazão aumenta e diminui ao longo do ano.
Eu li a ação civil pública inteira e ela levanta muitas questões que me fizeram pensar seriamente no tema ambiental. É bom lembrar que esse assunto provocou até demissão no Ibama. Saiu o diretor de licenciamento, porque seria contra.
Tem outra vertente da discussão. Falei também com empresas que participam e podem vir a participar. As dúvidas de engenharia e econômico-financeiras também são grandes, porque eles acham que a obra pode ficar mais cara do que se está pensando (R$ 19 bilhões).
O BNDES está se preparando para doar dinheiro, porque já falou que vai fazer o empréstimo mais vantajoso. E vai emprestar o máximo. É muito risco para todos que estão envolvidos. Dinheiro público pode entrar em um empreendimento que achamos importante, só que tem que ficar claro para o contribuinte quanto está indo para cada investimento.
A Comissão Mundial de Barragens diz que essas grandes hidrelétricas não são adequadas para o momento atual. O melhor seria fazer usinas menores, mais perto dos centros consumidores, ter menos gastos com linhas de transmissão, menos risco e impacto ambiental. E essa conversa de que é a grande hidrelétrica da Amazônia ou carvão é conversa fiada. Energia eólica e solar são as que mais crescem no mundo.
(O Globo, 16/04/2010)