Trabalhadores Sem Terra que ocuparam o Engenho Paca na manhã desta segunda-feira (12/4) encontraram trabalhadores vivendo em condições análogas à escravidão dentro do engenho.
Segundo os moradores do Engenho, este faliu a mais de 20 anos e as famílias foram deixadas à sua própria sorte, sem receber qualquer direito trabalhista ou indenização. Pelo contrário. Os moradores, que passaram a plantar inhame para sobreviver, são obrigados a pagar o "arrendo" da terra onde moram e plantam com produção de cana - isso é, toda a cana produzida é entregue diretamente para o dono do Engenho, conhecido no município de Ferreiro, como "o advogado" Carlos Gilberto, sem qualquer pagamento aos trabalhadores. Além disso, eles são obrigados a pagar pelo uso do trator, que também pertence a Carlos Gilberto, e só podem plantar inhame ou outra cultura de sobrevivência, na entressafra da cana.
Carlos Gilberto também "contrata" mão-de-obra do município nas mesmas condições: plantam a cana sem receber nada, e ainda têm que pagar pelo "arrendo", se quiserem plantar outra coisa na entressafra.
Desde a noite de ontem, após a ocupação, o "advogado" está coagindo os trabalhadores a assinarem um documento atestando que recebem salário e que estão de acordo com as condições de trabalho no Engenho, no sentido de escapar de um processo com o Ministério do Trabalho.
Casos de trabalho escravo são comuns em engenhos de Pernambuco. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), nos últimos anos Pernambuco destacou-se entre os estados em que mais foram encontrados trabalhadores em situação de escravidão nos canaviais. Só no ano de 2009 foram 369 trabalhadores libertados dos canaviais no estado. O caso recente mais emblemático foi o da Usina Cruangi S/A, onde auditores do Ministério do Trabalho e Emprego libertaram 252 trabalhadores, dentre eles 27 menores, sendo que 06 com menos de 16 anos.
(MST, 14/04/2010)