O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, advertiu ontem que o risco de um ataque nuclear tem crescido desde o fim da Guerra Fria. Obama pediu aos 47 líderes mundiais presentes que tomem atitudes para garantir que os materiais nucleares estejam em segurança. O Brasil, representado pelo presidente Lula, participa da cúpula.
“Hoje é uma oportunidade – não apenas para falar, mas para agir”, afirmou Obama no início do segundo dia da Conferência de Segurança Nuclear em Washington. “Não apenas para fazer pedidos, mas para haver progresso real para a segurança de nossos povos.”
E, pelo que parece, o apelo de Obama foi atendido. No esboço da declaração final da cúpula, os líderes dos 47 países decidiram que todo o material nuclear que pode ser usado para fabricar armas será controlado em um prazo de quatro anos. O mundo conta com reservas de urânio enriquecido e de plutônio – possíveis ingredientes de uma bomba – de 1.600 toneladas e 500 toneladas respectivamente. O documento reconhece ainda o direito dos países de usarem pacificamente a energia nuclear, mas reafirma a necessidade de cooperação e assistência mútua.
O evento busca mobilizar os líderes para que protejam melhor seus materiais nucleares em até quatro anos. Na segunda-feira, a Casa Branca teve sua primeira vitória. A Ucrânia fechou acordo para eliminar seu estoque de urânio altamente enriquecido até o próximo encontro nuclear, em 2012.
Em sua fala, Obama notou que o terrorismo nuclear é uma das maiores ameaças à segurança global, qualificando como uma “cruel ironia da história” o fato de que, 20 anos após o fim da Guerra Fria, o risco de um ataque nuclear tenha aumentado, enquanto a chance de uma guerra nuclear entre nações tenha diminuído. “Materiais nucleares que poderiam ser vendidos ou roubados e transformados em arma existem em dezenas de nações”, lembrou o presidente dos EUA. “Apenas uma pequena porção de plutônio – do tamanho de uma maçã – poderia matar e ferir milhares de pessoas inocentes.”
Obama destacou que redes terroristas como a Al-Qaeda “têm tentado adquirir material para armas nucleares e, se eles conseguirem, certamente irão usá-la”. “Se o fizerem, seria uma catástrofe para o mundo, causando extraordinária perda de vidas e representando um grande revés para a paz global.”
Além disso, Obama anunciou que o próximo encontro sobre segurança nuclear, em 2012, ocorrerá na Coreia do Sul. A notícia deve ser criticada pela Coreia do Norte, cujo programa nuclear tem sido alvo de controvérsia internacional. “Isso reflete a liderança regional e global da Coreia do Sul.” “Eu garanto a vocês que vou fazer o melhor para tornar o próximo encontro um sucesso”, afirmou o presidente sul-coreano, Lee Myung-bak.
Também ontem, a Casa Branca informou que o governo do México se comprometeu a eliminar todas as suas armas restantes que utilizem urânio enriquecido. Antes, Ucrânia e Canadá anunciaram decisões similares. O México deve converter um reator que atualmente produz urânio altamente enriquecido para que produza urânio pouco enriquecido, diminuindo os riscos de que esse material seja desviado para fins bélicos.
Irã terá cúpula com a presença de 15 nações
O Irã afirmou ontem que ministros das Relações Exteriores de 15 países participarão de uma conferência sobre desarmamento nuclear, marcada para os dias 17 e 18 em Teerã. A conferência na capital iraniana ocorre dias após um encontro sobre segurança nuclear em Washington, com a presença de mais de 50 líderes mundiais.
O Irã não participa do encontro na capital dos EUA, nação que pressiona a comunidade internacional para sancionar Teerã por seu programa nuclear. O governo iraniano garante ter apenas fins pacíficos, mas Washington e seus aliados temem que o país busque secretamente produzir armas nucleares. O Irã já foi alvo de três rodadas de sanções no Conselho de Segurança da ONU.
“Os ministros das Relações Exteriores de 15 países e mais de 200 convidados estrangeiros participarão da conferência em Teerã”, afirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. Ele não citou quais nações estarão presentes.
Segundo o funcionário, a intenção do encontro é combater “genuinamente o uso de armas nucleares no mundo de hoje”. O porta-voz criticou o encontro em Washington, lembrando que os EUA mantêm um dos maiores estoques de armas nucleares do mundo.
(JC-RS, 14/04/2010)