Moradores enfrentam ameaça de deslizamento ou enchente em sete áreas
Um levantamento em fase de conclusão pela prefeitura já mapeou 700 famílias em áreas de risco na Capital, a maior parte delas em encostas sujeitas a deslizamento. Elas vivem em sete áreas cuja remoção é considerada prioritária e devem ser favorecidas em projetos habitacionais, segundo o coordenador da Defesa Civil Municipal, Léo Bulling. Nas áreas de morro que apresentam perigo de deslizamento em Porto Alegre, podem passar de 400 as famílias residentes.
As mortes por soterramento ocorridas em morros fluminenses por causa das chuvas da semana passada chamaram atenção para o risco cotidiano em que vive esse tipo de população. Alarmados, especialistas devem discutir o tema amanhã, durante evento alusivo ao Dia Nacional da Conservação do Solo, a ser realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
– Se houver aqui uma chuvarada como a do Rio, podemos viver aquele tipo de problema, porque há condições perigosas em Porto Alegre. Esse será um dos nossos temas, porque o solo urbano é hoje o grande desafio – diz o professor Flávio Camargo, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, que promove o encontro.
O levantamento da prefeitura começou a ser realizado no ano passado e deve ser levado em consideração na seleção das famílias que serão beneficiadas em programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida. Ele ainda não está concluído e não computa as ilhas do Guaíba, que têm vastas áreas habitadas sujeitas a alagamento. Segundo Bulling, o risco é muito inferior ao verificado no Rio de Janeiro, mas preocupa.
– As características são diferentes. Na primavera passada, chegou a chover 520 mm em um mês em Porto Alegre, para uma média histórica de 120 mm, sem que tivéssemos problemas muito graves. Mas o risco de deslizamento sobre moradias irregulares sempre existe – alerta.
Conforme Flávio Camargo, um dos grandes problemas da ocupação em encostas é que as pessoas desconhecem o solo sobre o qual estão construindo suas casas. Não é uma falha apenas de quem ocupa os morros. De forma geral, as autoridades brasileiras não fazem um planejamento das áreas que podem ser ocupadas e das que apresentam risco.
– O problema não é o morro, mas o solo que o recobre. Com chuva, a água se infiltra e eleva o peso desse solo, que já está aumentado por causa das moradias que estão em cima dele – observa Camargo.
(Por Itamar Melo, Zero Hora, 14/04/2010)