O Terminal de Navios e Barcaças de Caravelas, na Bahia, da ex-Aracruz Celulose (Fibria), pode parar de funcionar. A informação é do Sindicato dos Trabalhadores Químicos e Papeleiros do Estado (Sinticel). O fechamento, segundo especialistas, deverá impedir a morte de dezenas de baleias no litoral capixaba e baiano. Entretanto, deverá expor que esta produção já extrapolou a capacidade de escoação do Estado. Nas estradas, a expectativa é o aumento de acidentes.
Pelo mar, conforme pontuam os ambientalistas, nos sete anos de funcionamento do Terminal de Navios e Barcaças, estas embarcações atravessaram a rota de baleias - que vem do sul em busca das águas quentes do Parque Nacional Martinho de Abrolhos – e são responsáveis por dezenas de atropelamentos desses animais, anualmente. Em grande parte, gerando a morte deles. Entre as espécies mais prejudicadas estão exemplares da espécie Jubarte, que utilizam o litoral baiano para se reproduzir.
Segundo os relatos de pescadores e até condutores das barcaças, é difícil desviar dos animais devido ao peso das barcaças, que carregam, oficialmente, até 200 toneladas de eucalipto em uma só viagem. Segundo os pescadores da região, quando não são mortas, as baleais acabam encalhando feridas nas praias da região.
Já nas estradas, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), as carretas excedem o peso máximo permitido na BR-101. Além disso, o número de acidentes demonstra que as transportadoras de eucalipto são reincidentes. Segundo o Dnit, as carretas não respeitam a lei e chegam a trafegar com até 105 toneladas de madeira.
Os caminhões que trafegam pelo trecho do sul da Bahia e norte do Estado com carga acima do peso permitido representam risco ainda maior de acidentes na estrada. Além disso, o excesso de peso deteriora as estradas, que apresentam péssimo estado de conservação.
Boa parte da culpa, alertam os especialistas, se deve à falta de fiscalização por parte do poder público. No Estado, das três balanças de pesagem de carretas, é usada apenas a balança do município de Linhares. Além disso, a empresa dificilmente é punida pelos danos causados.
No mar, as barcaças também não são fiscalizadas e as mortes de baleias são ignoradas pelos órgãos ambientais do Espírito Santo. As barcaças atropelam as baleias adultas, mas muitas vezes colidem com grupos de mães e filhotes que buscam abrigo próximo à costa.
O alerta é contra o aumento de produção da Fibria (ex-Aracruz Celulose). Para os ambientalistas, além de desmatar, poluir rios, ocupar terras indígenas, quilombolas e de comunidades ribeirinhas, a empresa gera ônus para o Estado pela destruição gerada nas estradas e prejuízo para a população com os acidentes gerados por suas carretas.
A cobrança da população se volta ainda para o poder público do Espírito Santo. A informação é que faltam informações sobre a produção atual de celulose e de eucaliptos pela empresa, assim como o que é transportado nas estradas capixabas, impedindo qualquer discernimento sobre a sobrecarga imposta pela ex-Aracruz Celulose ao Estado.
Na última semana, por exemplo, um motorista, residente em Pedro Canário, norte do Estado, morreu na BR-101, no município de Mucuri, no extremo sul da Bahia, quando seu carro foi atingido por uma carreta carregada de toras de eucalipto. Esse acidente se junta a centenas de outros ocorridos no trecho e denota a necessidade de a empresa reduzir o volume de transporte de toras pelas estradas para evitar acidentes.
Ao todo, circulam em média entre o Espírito Santo e sul da Bahia, cerca de 700 carretas de eucalipto por dia.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 13/04/2010)