Representante de movimentos sociais da região do Xingu (PA), onde está prevista a construção da usina de Belo Monte, a ambientalista Antônia Melo cobrou hoje uma posição "mais contundente" da pré-candidata do PV à Presidência da República, senadora Marina Silva (AC), contra a hidrelétrica. "Espero que a Marina avalie os estudos que mostram a inviabilidade desse projeto. Entendo a posição cautelosa, mas eu preferia que ela fosse mais radical", disse Antônia.
Na véspera, a senadora defendeu o adiamento do leilão de construção da usina, marcado para 20 de abril, mas disse que "a priori" não é "contra ou a favor do empreendimento". Marina pediu mais discussão sobre a obra. "A informação que tenho é que a população, que os índios não foram consultados", disse a pré-candidata do PV.
Coordenadora do Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade do Pará e integrante do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Antônia Melo disse que os grupos estão discutindo o apoio a Marina. A ambientalista afirmou que, pessoalmente, não vê outro nome em alternativa à pré-candidata do PV. "As outras visões são desenvolvimentistas atrasadas", afirmou, em referência aos pré-candidatos do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, José Serra.
"Esperamos que a Marina abrace o modelo do desenvolvimento responsável e consciente", disse Antônia, que participou no Rio do seminário "O que é política verde hoje?", organizado pela fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde alemão, que completa dez anos de atividade no Brasil.
Antônia Melo criticou a maneira "ditatorial" como o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tratado a construção de Belo Monte. "Nós, dos movimentos sociais do Xingu, afirmamos que nossa luta contra esse projeto é irreversível. O governo se fechou em uma concepção unilateral que pode aumentar a resistência e a forma de resistência", afirmou Antônia.
Diretor da fundação Heinrich Böll no Brasil, o ambientalista alemão Thomas Fatheuer lembrou que a decisão sobre a construção de Belo Monte "é autônoma do Brasil", mas reafirmou a posição contrária à usina. Ele destacou que "é importantíssimo um debate democrático, participativo". Thomas evitou comentar a cautela de Marina Silva em relação a Belo Monte. "Evidentemente respeito a opinião da Marina. Nesse caso específico, minha opinião é um pouco diferente. Em algumas coisas, acho que temos que manter o `não''", afirmou.
(Por LUCIANA NUNES LEAL, Agência Estado, 13/04/2010)