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passivos da energia atômica lixo radioativo
2010-04-14 | Tatianaf

Investigações da organização ambientalista Greenpeace contradizem as declarações públicas da companhia estatal francesa Areva de que as áreas povoadas perto de minas de urânio no Níger não estão contaminadas. A alta radioatividade persiste em localidades e áreas rurais vizinhas às minas, e estaria afetando cerca de 80 mil pessoas. Quando o urânio foi descoberto nesse pobre Estado africano, na década de 60, muitos pensaram que o mineral radioativo – indispensável como combustível para usinas nucleares e material básico para armas atômicas – seria a solução para os problemas econômicos e sociais nigerinos.

No entanto, como mostram informes recentes de organizações ambientalistas e pesquisadores independentes, as minas de urânio constituem um presente mortal, tanto para a saúde como para a vida política dessa ex-colônia francesa. O Níger é considerado o país mais pobre do mundo. Está em último lugar no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e enfrenta uma crise causada por denúncias de corrupção e conflitos ambientais, todos relacionados com as minas de urânio.

Segundo estudo do Greenpeace apresentado no dia 30 de março, a alta radioatividade ainda pode ser detectada perto das minas, especialmente nas localidades de Arlit e Akokan, 850 quilômetros a nordeste da capital, Niamey. Aproximadamente 80 mil pessoas vivem nessas áreas e zonas adjacentes. As minas são operadas pela estatal francesa Areva, que se considera “líder na indústria nuclear mundial”. A França, que explora minas de urânio no Níger há 45 anos, é a principal investidora nesse país africano.

Em entrevista à IPS, Rianne Teule, ativista do Greenpeace para assuntos de energia atômica, explicou que o grupo de pesquisa da organização visitou Níger em novembro do ano passado para analisar se a empresa cumpria os padrões básicos trabalhistas e de saúde. “Encontramos níveis perigosos de radiação nas ruas de Akokan”, disse Teule à IPS. “Também encontramos alta concentração de urânio em quatro ou cinco amostras de água de Arlit, em doses além dos limites estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde. A Areva já havia declarado que essa radiação fora identificada e suas fontes tratadas”, acrescentou.

Em alguns casos, a radioatividade medida pelos pesquisadores do Greenpeace em Akokan supera em 500 vezes os níveis normais aceitos. “Uma pessoa que passa menos de meia hora por dia nesses lugares estará exposta a mais do que a dose anual máxima de radiação permitida pela Comissão Internacional sobre Proteção Radiológica e apoiada pela legislação da maioria dos países”, disse Teule. As conclusões do Greenpeace confirmam informes prévios de outras organizações ambientalistas francesas que denunciam a falta de responsabilidade na operação de minas de urânio no Níger.

Em 2007, uma inspeção da comissão independente de pesquisa sobre radioatividade (Criirad) e a organização nigerina Aghir In’Man descobriram altos níveis de radiação nas ruas de Akokan. No bairro vizinho ao hospital dessa cidade, a Criirad constatou níveis de radiação cem vezes acima do normal. A organização também identificou a fonte de contaminação: rochas retiradas das minas de urânio que foram usadas para a construção de estradas.

“Levamos nossas conclusões à junta de diretores da Areva e às autoridades nigerinas locais, e pedimos uma completa investigação radiológica e uma limpeza do lugar”, disse à IPS o diretor de pesquisas da Criirad, Bruno Chareyron. O grupo também encontrou contaminação radioativa em água potável e dejetos de metal. As consequências na saúde pública da exploração de urânio são apenas alguns dos muitos problemas derivados da indústria extrativa em Níger.

O francês Alain Joseph, especialista em Hidrologia que trabalha neste país, disse à IPS que “a economia de pastagem vai desaparecer no nordeste de Níger por causa das dezenas de projetos de mineração ali instalados que superexploram os recursos hídricos”. Só em 2009, as autoridades nigerinas autorizaram 139 projetos de pesquisa de urânio feitos por empresas da Austrália, China e do Canadá. Joseph disse que esses projetos consomem os recursos hídricos da cidade de Agadez, única fonte de água da região. “A exploração de urânio não só dizima o meio ambiente e a saúde pública do Níger, mas também destroi os fundamentos econômicos de Tuareg, Fula, Kounta e outros povos nômades no norte do país”, alertou.

(Por Julio Godoy, IPS, Envolverde, 13/4/2010)


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