Durante os quatro primeiros meses do ano as comunidades agroextrativistas do Baixo Parnaíba com maestria se atravancam pelas Chapadas como os ramos de árvores jovens nas áreas de capoeira. Quando acabar a safra de bacuri, depois de abril, as comunidades puxam os seus sacos de volta para casa. Com o recurso da venda saldam as dívidas e compram algo que falta. Nos oito meses seguintes somente uma expedição sondaria o invariável no interior dessas comunidades. Nada varia. Tanta inércia petrificou as folhas dos cadernos em que as crianças anotam suas aulas. O prefeito decidiu que a prefeitura não assistirá mais as comunidades em educação. Para a prefeitura, o mato engole as comunidades e por isso não manda professor.
Até anos atrás os bacuris se gastavam nas Chapadas. O agronegócio da soja e do eucalipto veio e empurrou as comunidades para porções menores de extrativismo. A colheita de bacuri ano após ano submerge graças aos desmatamentos para os plantios de monoculturas e para as serrarias e graças à derrubada do fruto ainda verde. O Centro de Direitos Humanos de Santa Quitéria forneceu dados sobre a safra de bacuri. Ela diminui progressivamente.
A comunidade de São Raimundo, município de Urbano Santos, destampa algo que vivia parado. A comunidade empatou o desmatamento de sua área de Chapada para o plantio de eucalipto e requereu a vistoria pelo Incra para a criação de um assentamento agroextrativista. No Baixo Parnaíba, como no Cerrado sul-maranhense, o agronegócio barra a desapropriação de terras para fins de reforma agrária. O caso de São Raimundo desarruma a lógica prevista para o município de Urbano Santos de privilegiar o agronegócio e deseducar as populações.
Entre os dias sete e oito de abril de 2010, aconteceu mais uma etapa do projeto Comunidade Tradicional e a Sustentabilidade do Extrativismo do Bacuri em Urbano Santos, financiado pela CESE e pela ASW. A Suzano, como visita constantemente a página do Fórum Carajás, inteirou-se em parte sobre o projeto para descobrir o que rola em São Raimundo. Nessa etapa, que a comunidade de Boa União sediou, o senhor Alberto Cantanhede, membro do Centro de Apoio à Pesca Artesanal do Maranhão, ciciou em doze horas sobre quais são as potencialidades da região. Alguém afirmaria da antemão que o bacuri viria em primeiro lugar. Mas não. O que veio foi a pesca, o babaçu e o artesanato de buriti. Depois da eleição foi a vez de começar a matutar projetos. Para essas comunidades os meses pós-safra de bacuri não se deitarão em berço esplêndido.
(Por Mayron Régis, Adital, 12/04/2010)