A Caravana dos Povos do Maranhão e Pará terminou com uma grande plenária e vários protestos contra a Vale na região, em Açailândia (MA), neste sábado (10/4). As atividades deram início à Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária no estado.
Reunidos desde segunda-feira (5/4), a Caravana, composta por representantes de seis países, percorreu várias cidades do Pará e Maranhão debatendo os impactos da Mineradora Vale e trocando experiências de lutas dos diversos países contra a Empresa.
O Estado do Maranhão é um dos mais atingidos pelos empreendimentos criminosos cometidos pela Vale, crimes tanto trabalhistas como de responsabilidade de seguranças nos seus trilhos, que percorrem cerca de 600 km pelo estado. Marlúcia de Azevedo, do Fórum de Políticas Públicas de Buriticupu, relata que por onde os trens da Vale passam fica um rastro de destruição, social, econômico e ambiental. Ela conta que a maioria dos funcionários da Vale no município se deslocam às 3h da madrugada para o trabalho, não recebem horas inteiras e ainda levam a comida de casa feita na madrugada - são os chamados bóias-frias da Vale.
A mineradora detém quase 200 mil hectares de terras no Maranhão, cerca de 65 mil deles com cultivo de eucalipto, e ainda visa expulsar assentados da região oeste (onde a empresa pretende explorar bauxita).
Os crimes da Vale
Na plenária de sábado, realizada na Câmara Municipal de Vereadores de Açailândia, moradores do município de Alto Alegre contaram que uma vida humana é destroçada por mês pelo trem da Vale na cidade.
Cerca de dez trens partem todos os dias da Serra dos Carajás, em Parauapebas (PA), para São Luis (MA), com cerca de 400 vagões com um peso médio de 21 toneladas cada um. Os povoados e cidades próximos às ferroviárias têm a estrutura de suas casas danificadas e poços estourados, devido ao peso do trem, fazendo com que a população consuma água de péssima qualidade.
No distrito de Piquiá, em Açailândia, uma comunidade de quase 15 mil habitantes vive sob uma imensa poluição tóxica e rodeada de dejetos resultantes das atividades de cinco siderúrgicas subsidiárias da Vale. Alguns dos seus auto-fornos estão a apenas 80 metros das casas da comunidade. Muitas mortes acontecem por problemas de saúde no local, além de inúmeros acidentes com crianças nos lixões de dejetos.
São tantos crimes que é difícil dizer qual deles é o mais grave. O presidente do conselho tutelar de Açailândia falou sobre o caso dos “meninos do trem”. São crianças que pegam o trem cargueiro para se deslocar de um município a outro e sofrem agressões por seguranças da Vale.
A Vale pelo mundo
A Caravana foi uma preparação para o I Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale, que ocorrerá durante os dias 13 e 15 de abril no Rio de Janeiro. O Encontro reunirá representantes de diversos países onde a Vale está instalada. Em Moçambique, onde a empresa está desde 2004 e se prepara para explorar carvão mineral, mais de 1,2 mil famílias já foram diretamente atingidas. “São famílias camponesas tradicionais seculares que estão sendo remanejadas para reassentamentos sem estrutura alguma e sem nenhuma perspectiva de trabalho”, comenta Rui de Vasconcelos, da Assessoria Jurídica dos Atingidos pela Vale em Moçambique, membro da Caravana. A previsão é de que, nos próximos anos, ao menos sete mil famílias sejam diretamente atingidas pela ação danosa da Vale. Para o moçambicano, o que mais chama atenção é a postura da empresa em não reconhecer os direitos e a soberania dos povos que por lá vivem. “Para a Vale, é como se nosso povo não existisse”, completa.
Protestos
Na passagem por Açailândia, dois atos públicos foram realizados. O primeiro, no distrito de Piquiá, a população atingida se somou à manifestação contra as siderúrgicas. O segundo ato, na entrada da Fazenda Monte Líbano, onde a empresa cultiva eucalipto e tem uma grande carvoaria industrial, que vem sufocando cerca de 1800 pessoas do Assentamento Califórnia com a expedição de fumaça. O ato pediu o fechamento daquelas instalações. A manifestação também marcou o início de uma luta conjunta contra a empresa, e como símbolo desta unidade os manifestantes penduraram máscaras simbolizando a resistência à poluição, ao mesmo tempo em que gritavam o nome de cada país e organização presente na luta contra a mineradora.
À noite, no assentamento Califórnia, foram apresentadas peças teatrais e um grande jantar encerrou a passagem da caravana pela Amazônia brasileira.
(Por Reynaldo Costa, MST, 13/04/2010)