O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recebe hoje e amanhã cerca de 40 líderes mundiais com a finalidade de desenvolver uma estratégia contra o terrorismo nuclear. A reunião acontece após o anúncio, da semana passada, da decisão de Washington de modificar significativamente sua política nuclear, reduzindo em um terço seu arsenal de ogivas atômicas.
A Casa Branca divulgou, no dia 7, a nova Revisão da Postura Nuclear, que proíbe o uso de armas nucleares contra os signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNPN), renuncia aos testes desse tipo e ao desenvolvimento de novas ogivas atômicas, além de se comprometer em buscar no Senado a ratificação do Tratado para a Proibição Completa dos Testes Nucleares.
No dia seguinte, Obama assinou em Praga um novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start) com o presidente da Rússia, Dimitri Mdvédev. Esse tratado compromete os dois países a reduzirem em um terço seus arsenais nucleares, o que baixaria a quantidade de ogivas desse tipo para 1.550 de cada lado. A campanha da Casa Branca para fortalecer o TNPN e reduzir o arsenal nuclear dos Estados Unidos começou há um ano.
Agora, na capital checa, Obama anunciou as intenções de seu governo em liderar um esforço mundial para resguardar os materiais nucleares, erradicar os mercados negros e o comércio dos mesmos, e criar instituições internacionais que combatam a proliferação e o terrorismo atômico. Apesar de a conferência de avaliação do TNPN acontecer somente no mês que vem, a cúpula desta semana sobre segurança nuclear se centrará na prevenção deste tipo de terrorismo.
“Não há um acordo internacional sobre segurança de material físsil, e, assim, nenhuma força organizadora que guie a agenda. Um objetivo importante que deveria ser considerado para a cúpula é a criação de um acordo que identifique as ameaças para a humanidade dos vulneráveis materiais passíveis de fissão, especialmente as feitas por terroristas, e que liste as ações necessárias para mitigá-las”, escreveu Kenneth N. Luongo, da Partnership for Global Security.
A ênfase na segurança nuclear é, em parte, uma resposta à preocupação de que a Coreia do Norte possa transferir tecnologia nuclear para a rede extremista Al Qaeda, de Osama bin Laden, e que o Irã esteja fabricando armas atômicas em segredo. Contudo, os novos anúncios de Obama parecem refletir um compromisso mais amplo de criar “um mundo livre de armas nucleares”, como declarou o mandatário no ano passado em Praga.
Embora exista toda uma rede de instituições e acordos vinculantes relativos à segurança atômica, não existe um único documento abordando o conjunto destes assuntos, disse à IPS Robert Leonard, representante de assuntos do governo no Ploughshares Fund, uma organização que promove o desarmamento nuclear. Entretanto, agora haverá uma combinação de convenções e tratados interligados incluídos “nesta nova agenda de segurança”, afirmou.
A cúpula desta semana será a maior de líderes mundiais já realizada nos Estados Unidos desde a assinatura da Carta da Organização das Nações Unidas, em 1945, em São Francisco. Uma ausência notória será a do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. O Estado judeu não reconhece possuir um programa de armas nucleares, mas acredita-se que conte com 200 ogivas. Netanyahu anunciou que não participará por considerar que Israel será, nesse sentido, o alvo das críticas dos Estados árabes que estarão presentes. De todo modo, Israel enviará uma delegação a Washington e se mostrou muito interessado em impedir que o Irã desenvolva armas nucleares.
O anúncio feito há alguns dias de que o presidente chinês, Hu Jintao, participará dissipou os rumores de que Pequim boicotaria o encontro para demonstrar seu descontentamento com a decisão de Obama de continuar com a venda de armas a Taiwan e por se reunir com o líder tibetano Dalai Lama na Casa Branca. A presença chinesa na reunião é particularmente importante, à luz dos esforços internacionais para combater a proliferação e das preocupações com a possibilidade de a Coreia do Norte exportar suas tecnologias nucleares. A China é considerada a nação com maior influência sobre os norte-coreanos.
(Por Eli Clifton, IPS, Envolverde, 12/4/2010)