Empresários da produção de café e cacau, que possuem o certificado de Agricultura Sustentável (RAS-Rainforest Alliance Certified Seal), disseram, durante a quarta edição da Feira de Produtos Florestais e Agrícolas Certificados, em São Paulo, que a maior parte de sua produção é hoje exportada, devido ao baixo consumo de mercadorias com atestado de sustentabilidade no Brasil.
Luiz Norberto Paschoal, que é presidente da Dpaschoal, grupo do qual faz parte a processadora de café certificado Daterra Coffees, afirmou que 98% de sua produção, de cerca de 100 mil sacas com o selo de certificação, são exportados. “Ainda vamos precisar de tempo para que o consumidor brasileiro também passe a comprar o produto certificado. A certificação gera o sobrepreço, e o produto fica de 5% a 15% mais caro. Culturalmente, demora para que as pessoas decidam pagar mais pela mercadoria com o selo”.
Patrícia Moles, economista e representante da Delfi Cocoa, que fabrica chocolate a partir de cacau certificado, com sede brasileira na Bahia, informou que sua linha de chocolate Ecochoco é exportada para o Japão. “Há pouca valorização da certificação pelo mercado brasileiro”, confirmou.
O diretor da Casa Fuentes, produtora de chá certificado pelo RAS, na Argentina, Armando Nervi, conta que 51% de sua produção são comprados pelos Estados Unidos. “Ainda não temos consumidores no Brasil, mas gostaríamos de fechar negócio aqui”, diz.
Diante dessa dificuldade de comercialização, Paschoal afirmou que sua empresa foi ousada ao decidir por vender exclusivamente café certificado pela Rainforest Alliance, em 2005. “Na época, também decidimos só vender para quem fosse certificado com o RAS. Não foi fácil, mas lentamente alguns distribuidores se certificaram. Outros, ajudamos a pagar pela certificação”, relata.
Cacau da Amazônia
Patrícia, da Delfi Cocoa, que é certificada com o RAS desde 2008, diz que 25% do cacau produzido no Brasil hoje vêm de Estados amazônicos, como Pará, Rondônia e Amazonas, e o volume de produção nessas regiões cresce a taxas baixas, embora as condições climáticas e de solo no local sejam propícias à cultura cacaueira. “Embora o crescimento do consumo de chocolate do Brasil seja grande, há mais demanda do que oferta de cacau, e há adversidades quanto à logística na Amazônia”, explica.
Também de acordo com ela, a opção por aderir à certificação de sustentabilidade teve como alguns de seus objetivos aumentar a credibilidade da empresa e neutralizar as críticas frequentemente feitas às condições sociais dos trabalhadores que produzem o cacau brasileiro. A representante da Cocoa disse que, no Pará, a maior parte dos fornecedores da matéria-prima é de pequenos produtores, que têm mais dificuldade em aderir a uma parceria com a empresa para certificação de seu produto.
Atualmente, a Cocoa adquire o cacau certificado de somente duas fazendas, que, segundo Patrícia, são líderes em sustentabilidade no setor. “Buscamos parceria com outros fornecedores, mas temos muita dificuldade de comunicação, tanto com o produtor, quanto com o consumidor. A Rainforest tem mais credibilidade junto aos ambientalistas. Acredito que, quanto mais sensibilizarmos os grandes consumidores, mais teremos produtos certificados”, conclui a economista.
Falta de informação
Richard Donovan, vice-presidente da Rainforest Alliance, desde 1992, que esteve presente em outro painel do evento, concorda com a falta de informação sobre a importância da certificação entre os consumidores. “Há muitos consumidores que não conhecem ainda o produto certificado. Esse é o nosso maior desafio”.
De acordo com ele, o RAS já certificou 500 mil hectares em 24 países, e espera garantir a certificação de 10% da produção mundial de café. “Quanto ao café, pretendemos reduzir emissões no cultivo, incentivar a manutenção de árvores para criar sombra, e conter o desmatamento”, explica.
(Por Fabíola Munhoz, Amazonia.org.br, IHU-Online, 09-04-2010)