A tragédia provocada pelas chuvas no estado do Rio ganhou contornos mais dramáticos com o deslizamento de cerca de 50 casas no Morro do Bumba, bairro Viçoso Jardim, em Niterói.
O Estado contava 179 mortos ontem à noite, segundo informou o Corpo de Bombeiros, mas o número pode dobrar. Especificamente em Niterói, também conforme uma estimativa dos bombeiros, 200 pessoas podem estar sob os escombros. As chances de encontrar sobreviventes no Morro do Bumba são remotas. Até o final da tarde, 12 corpos haviam sido retirados.
A terra desceu 600 metros e a expectativa é que o trabalho demore ao menos duas semanas. A favela que se formou no morro cresceu ao longo dos últimos 30 anos numa área onde, há 50, havia um lixão. Antes do deslizamento, quarta-feira à noite, os bombeiros foram chamados para resgatar uma pessoa soterrada. Chegaram a levar retroescavadeira, mas voltaram ao quartel para pegar equipamentos para a noite.
Perto das 22h foi ouvido um estrondo seguido de uma avalanche. Na segunda-feira, duas casas já haviam desabado e algumas pessoas tinham sido retiradas de casas de risco. Pelo menos 30 estavam hospedadas nos vizinhos, no alto do morro, e agora estão desaparecidas. Outras 56 foram resgatadas com vida. Cerca de 300 homens, entre membros da Força Nacional de Segurança, policiais civis, militares e bombeiros trabalhavam no local.
A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, disse que a provável causa do deslizamento foi uma explosão do gás metano do antigo lixão. Segundo ela, o lixo em decomposição formou uma bolsa de metano que, em contato com o ar, causou a explosão ouvida pelos moradores. "Áreas que servem de depósito de lixo são de pouca sustentação estrutural. As construções ficam vulneráveis", observou Agostinho Guerreiro, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio. "O lixão estava desativado havia 50 anos. Ninguém poderia imaginar", lamentou o prefeito. A delegada Juliana Evrigue, da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, de Niterói, abriu inquérito para investigar as causas da tragédia.
(Correio do Povo, 09/04/2010)