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lixões gestão de resíduos política ambiental Indonésia
2010-04-09 | Tatianaf

Nasrulloh ganha a vida com um lixão ilegal que, assegura, ajuda a prefeitura desta cidade da Indonésia a evitar a contaminação ambiental. Mas a gestão sustentável do lixo é uma equação bem complicada. Tangerang, 20 quilômetros a oeste de Jacarta, foi considerada a terceira cidade mais suja do país pelo Ministério do Meio Ambiente, com produção de 1.407 metros cúbicos de resíduos por dia. A maioria dos dejetos é jogada em Rawa Kucing, uma área governamental de 13 hectares, onde apenas 1,5 hectare está livre.

Vários cidadãos viram nisso uma oportunidade econômica e transformaram seus terrenos em depósitos de lixo. Nasrulloh tem um grande lixão ilegal de sete mil metros quadrados no distrito de Taman Asri. “Não quero dizer que o negócio não seja rentável. E também ajuda o governo local a se desfazer do lixo”, afirmou. Quarenta e sete caminhões despejam todos os dias o lixo de diferentes bairros e um hospital em seu terreno. A tarifa varia segundo a frequência de uso. Os veículos que descarregam três vezes ao dia pagam o equivalente a US$ 30 por mês. Além disso, aluga um espaço para 20 famílias de catadores, que vivem em 500 metros quadrados e pagam US$ 700 por ano para viver no lixo.

Contudo, o que é uma fonte de renda para Nasrulloh e permite à comunidade se livrar do lixo, acaba prejudicando-a. O lixo que ele queima duas vezes ao dia gera uma grossa coluna de fumaça negra que contamina o ar. A filha de Asvin Elliyana sofria de tosse constante quanto tinha dois anos. Após levá-la de um médico a outro com seu marido, Hari Nugroho, descobriu que Matyam Casimira Kinanti sofria de 20 tipos de alergia causada pelo ar contaminado. “Sua casa fica perto da estrada?”, perguntou o médico aos país da menina, suspeitando que tivesse inalado fumaça lançada pelos carros. “Não”, respondeu Hari, acrescentando que viviam não muito longe do lixão de Nasrulloh.

Problemas de saúde como o de Matyam não surpreendem Armi Susandi, especialista do Conselho Indonésio de Mudança Climática. Os lixões ao ar livre são a pior forma de processamento do lixo porque, além da contaminação, produzem e liberam gás metano, que concentra 20 vezes mais calor na atmosfera do que o dióxido de carbono. As emissões de gases-estufa causam o aquecimento global que acelera a mudança climática, segundo a maioria dos cientistas. Os seis gases mencionados no Protocolo de Kyoto da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática são dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, hexafluoreto de enxofre, hidrofluorcarbonos e perfluorcarbonos.

“O metano na atmosfera aumentou, em média, 20% mais rápido do que o dióxido de carbono nos últimos dez anos. O aumento foi bem maior porque muitas nações tentaram reduzir as emissões do segundo, mas se esqueceram do primeiro”, disse Susandi. O perigo do aumento da concentração do metano ficou provado com o que aconteceu na cidade de Cimahi, ao sul de Jacarta, em 2007. O depósito de lixo do distrito de Leuwi Gajah explodiu no meio da noite por causa do gás preso nas pilhas de lixo. Cinqüenta e cinco catadores morreram no incidente. Nasrulloh disse que sabe do perigo e que por isso queima o lixo apenas duas vezes por dia.

Moradores cansados da situação ameaçaram processá-lo. Enviaram uma carta de protesto ao governo local e ao Ministério do Meio Ambiente, o que levou o inspetor Haris Mangsur a proibir que queimasse o lixo. Mas o que parece uma solução, não foi. O lixo de Nasrulloh deveria ser recolhido entre quatro e cinco vezes ao dia para que ele não queimasse mais e ele ainda deveria pagar à municipalidade o equivalente a US$ 300 ao mês por esse serviço. Mas os motoristas dos caminhões do governo não gostaram do trabalho a mais e começaram a pedir propina de US$ 0,16 centavos ao mês para cada um dos 47 veículos que descarregavam no lixão de Nasrulloh.

“Cada vez que vinham também tínhamos de dar bebida e cigarro”, protestou Ujang, que ajudava na descarga. Mesmo com tudo isso, os caminhões só iam uma vez por dia porque a prefeitura tem apenas 20 veículos para três distritos, explicou Mangsur. As autoridades tiveram que optar por outra solução e, em outubro do ano passado, ensinaram Nasrulloh a classificar o lixo para que não o queimasse. Dessa forma, pensavam em criar um sistema em que os catadores venderiam o lixo inorgânico e os orgânicos seriam transformados em fertilizantes. “Mas sai mais caro para mim, com a máquina e o combustível que tenho de comprar todos os dias”, protestou Nasrulloh.

As autoridades devem oferecer mais incentivos alternativos para dissuadir as práticas sujas, nada saudáveis, nem sustentáveis, insistiu Susandi. Se incentivarem a agricultura orgânica aumentará a demanda por fertilizante orgânico e Nasrulloh terá um motivo econômico para reciclar o lixo, o que agora não tem. Por seu lado, Nugroho assegurou que lutará para que seus filhos possam respirar.

(Por Veby Mega Indah, IPS, Envolverde, 8/4/2010)


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