Robert Schaffert, da Embrapa, disse que o sorgo é uma fábrica de energia.
O Brasil pode tornar-se uma referência mundial na produção de etanol a partir do sorgo, mas para isso os pesquisadores precisam intensificar as parcerias com usinas em todo o País para conhecer melhor o sistema de produção da cultura e ajustá-lo às diferentes regiões.
A avaliação foi feita nesta terça-feira por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, em audiência pública realizada pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. A audiência foi requerida pelo deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP). O sorgo é um cereal que pode ser usado como alimento humano e animal, além de ser útil na produção de farinha, entre outras aplicações.
A disseminação da cultura, em parceria com usinas de todo o País, facilitaria a compreensão do seu aproveitamento industrial, do sistema de mecanização da lavoura e das variedades mais promissoras. “O caminho hoje é a integração com as grandes destilarias. Precisamos de produtores de usinas localizadas em diferentes pontos do País que se disponham a montar unidades pilotos”, disse o pesquisador João Carlos Garcia.
A Embrapa já realiza um projeto piloto com uma empresa privada mineira, com uma área plantada de 12 hectares. Garcia quer replicar essa experiência em outros pontos do País.
Potencial
Segundo os pesquisadores, o sorgo tem um alto potencial energético – pode produzir até 4,5 mil litros de etanol por hectare, metade do aproveitamento da cana-de-açúcar – e pode ser usado de forma complementar aos canaviais. A ideia é que ele seja colhido nos períodos de entressafra da cana (janeiro a março), fornecendo matéria-prima para as usinas no seu período de ociosidade.
“O sorgo é uma verdadeira fábrica de energia”, atestou o pesquisador da Embrapa Robert Schaffert. Segundo ele, em dois anos a instituição deverá colocar no mercado novas variedades de sorgo para a produção de etanol. Em cinco anos, devem surgir cultivares (variedades híbridas) mais resistentes e fáceis de serem colhidas no campo.
Schaffert disse que o sorgo tem como vantagens, além do ciclo curto, a baixa necessidade de água e a possibilidade de mecanização total da colheita, o que torna a produção mais eficiente do que a da cana, ainda intensiva em mão-de-obra. Outra vantagem é a possibilidade de usar as sobras da produção nas usinas para a alimentação animal.
Benefício
O deputado Duarte Nogueira disse que a produção de etanol a partir do sorgo poderia beneficiar os consumidores. “Durante a entressafra, período em que o preço do álcool está mais caro, poderemos continuar produzindo etanol. Isso permitirá uma condição mais adequada de abastecimento do mercado”, disse.
Ele lembrou que as pesquisas com sorgo no País foram interrompidas na década de 80. O sucesso da produção de álcool a partir da cana acabou enfraquecendo as pesquisas com o cereal que vinham sendo feitas pela Embrapa. Com a abertura de um mercado mundial de biocombustíveisQualquer produto usado como fonte de energia produzido a partir de biomassa renovável (aproveitamento de lixo ou resíduos de processos industriais). Por ser biodegradável, atóxico e praticamente livre de enxofre e aromáticos, é considerado um combustível ecológico. O biodiesel, por exemplo, é um aditivo para motores de combustão interna com ignição por compressão, derivado de fontes renováveis, como soja e mamona. Ele pode ser usado puro ou misturado com o diesel mineral, em qualquer proporção. Outro exemplo de biocombustível é o etanol., o sorgo voltou a ser priorizado pela Embrapa para a produção de etanol e pode viver um boom no futuro.
Atualmente, a cultura de sorgo tem uma posição marginal no País, apesar de ser adaptada aos climas tropicais. A produção foi de 1,9 milhão de toneladas na safra 2008/2009, contra 5,9 milhões de toneladas do trigo — cultura de climas temperados.
(Por Brizza Cavalcante, Agência Câmara, 07/04/2010)