Em mais uma medida de limitação dos arsenais nucleares, o presidente Barack Obama anunciou ontem a alteração da estratégia nuclear americana, no que está sendo chamado pelo governo americana como sua “Revisão da Postura Nuclear”. Objetivo: diminuir as condições sob as quais os Estados Unidos usarão armas nucleares, até mesmo em autodefesa.
Mesmo assim, o presidente ressalvou que abriria exceção para “desajustados como o Irã e a Coreia do Norte”, que violaram ou renunciaram o principal tratado de não-proliferação nuclear. Trata-se, segundo o próprio Obama, de um esforço mais amplo para conduzir o mundo na direção de tornar as armas nucleares obsoletas, e, ao mesmo tempo, criar incentivos para os países desistirem de suas ambições armamentistas. Para servir de exemplo, os EUA renunciam ao desenvolvimento de novas armas nucleares.
De acordo com o jornal The New York Times, a estratégia busca mudar a postura nuclear do país para “uma nova era”, na qual Estados inamistosos e organizações terroristas são as maiores ameaças, e não potências tradicionais como a Rússia e a China. Assim, elimina parte da ambiguidade que existia na política nuclear americana desde o início da Guerra Fria.
País usará mais as armas convencionais para dissuasão
Pela primeira vez, os EUA se comprometem a não usar armas atômicas contra países não-nucleares que cumprem o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mesmo se atacarem os EUA com armas químicas ou biológicas. Essas ameaças, argumentou Obama, poderiam ser dissuadidas com “opções” – armas convencionais antigas e recém-projetadas.
– Preservarei as ferramentas para assegurar que os americanos permaneçam em segurança – disse Obama.
Funcionários da Casa Branca disseram que a estratégia deixa aberta a opção de reconsiderar o uso de retaliação atômica contra um ataque biológico, caso o desenvolvimento dessas armas chegue a um nível que deixe os EUA vulneráveis a um ataque devastador.
A nova estratégia está fadada à controvérsia (veja quadro). Obama reconhece ter optado por uma ação mais lenta que a esperada, dizendo:
– Queremos assegurar que poderemos continuar em um caminho de menor ênfase nas armas nucleares e assegurar que nossa capacidade de armas convencionais seja um dissuasor eficaz em todas as circunstâncias, exceto as mais extremas.
A revisão de postura abre dias intensos de diplomacia visando à redução das armas. Obama irá a Praga para assinar novo acordo de controle de armamentos com a Rússia, na quinta-feira, e receberá 47 líderes em Washington. O teste mais imediato da nova estratégia deve ser o Irã, que ameaça desenvolver um programa nuclear que insiste ser para fins pacíficos. Ao ser perguntado sobre a escalada do confronto com o Irã, Obama disse que está convencido de que “o curso que adotaram lhes dará capacidade de armas nucleares”.
(Zero Hora, 07/04/2010)