Há poucos dias do início da feira IV Brasil Certificado, que entre os dias 7 e 9 de abril vai apresentar em São Paulo empresas, produtores e produtos ambientalmente corretos e socialmente justos, o Amazonia.org.br conversou com Eduardo Trevisan Gonçalves, engenheiro agrônomo e coordenador da área de certificação agrícola do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), uma das organizadoras do evento.
Na entrevista, Trevisan aborda a inserção da certificação agrícola nos debates do evento, além de analisar a questão da certificação no Brasil. Segundo ele, a certificação está cada vez mais sendo exigida pela população. "Hoje as pessoas estão cada dia mais interessadas em preservar não só a Amazônia. Elas querem comprar café certificado para preservar o Cerrado, querem comprar banana certificada para que a água do Vale do Ribeira (SP) seja preservada", afirma.
Veja entrevista na íntegra.
Amazonia.org.br - Qual a importância da feira?
Eduardo Trevisan Gonçalves - A feira tem dois focos principais. O primeiro deles é fazer um fórum de debates sobre o tema da certificação, falando das experiências das empresas, dos produtores certificados. Na verdade, vai tratar de toda a cadeia e outros temas ambientais importantes, como a parte de carbono e o mercado para esses produtos diferenciados, tanto os florestais como os agrícolas. A feira é também um meio de negociação direta dos produtores de produtos certificados com os clientes. É um lugar que eles podem mostrar os produtos, que podem falar sobre as políticas de responsabilidade social. É uma vitrine. É uma maneira de facilitar com que o público, desde o consumidor até os clientes corporativos, tenham acesso direto a esses produtos certificados.
Amazonia.org.br - Qual a novidade para esta edição?
Trevisan - O Imaflora tem grande experiência na área florestal e a feira vinha sendo trabalhada para a questão florestal. Mas, como o interesse do setor agrícola tem aumentado cada vez mais nessa área de certificação e ações sustentáveis, e o consumidor está exigindo de grandes empresas mais responsabilidade socioambiental, vimos então que trabalhar só a área florestal não é suficiente. Queremos trabalhar toda a cadeia, tanto agrícola como florestal. Assim a gente consegue trazer um benefício socioambiental, seja na Amazônia, seja em São Paulo. Na verdade, é uma exigência do consumidor, é uma exigência do mercado. Hoje as pessoas estão cada dia mais interessadas em preservar não só a Amazônia. Elas querem comprar café certificado para preservar o Cerrado, querem comprar banana certificada para que a água do Vale do Ribeira (SP) seja preservada.
Amazonia.org.br - De que forma vocês vão colocar essa novidade na feira?
Trevisan - Alguns expositores são da área agrícola. Haverá cooperativa de café, uma produtora de cacau, empresa de chocolate, torrefador de café. Além disso, haverá debates específicos para a área agrícola, falando dos desafios e benefícios.
Amazonia.org.br - Por que é importante haver certificação?
Trevisan - A certificação é uma ferramenta para trazer boas condições de produção no campo. Ela ajuda a melhorar as relações sociais, a saúde e segurança do trabalhador, conservação das florestas, dos serviços hídricos, toda a melhoria ambiental e social na área rural. Na área florestal, na Amazônia, tem uma importância ainda maior. Com a certificação, podemos manter a floresta em pé. Então acreditamos que a certificação florestal traz um benefício econômico para a floresta. Quando o consumidor compra um produto certificado, ele tem certeza que aquela área [ de onde veio o produto] não tem desmatamento, que o trabalhador tem todas as condições dignas de trabalhar.
Amazonia.org.br - Como está a certificação no Brasil?
Trevisan - Na área agrícola, que é o meu setor, ela vem crescendo ano a ano. Começamos a certificar apenas café, hoje já tem cacau, frutas, vamos começar com o setor sucroalcooleiro neste ano e, no próximo, com o gado. Então, de 2002, quando tínhamos 5 mil hectares de área certificada, passamos agora para mais de 100 mil hectares certificados. É uma evolução grande. E as marcas estão mais presentes para o consumidor, principalmente no mercado externo. No mercado interno, temos trabalhado com vários produtos. Em breve esse selo agrícola, o RAS, será mais conhecido aqui no Brasil.
Amazonia.org.br - O aumento de variedade de selos não pode confundir o consumidor? Como avaliar a credibilidade?
Trevisan - Pensamos muito nisso e a feira tem um desses objetivos: consolidar e explicar para o público a diferença das certificações, por meio do fórum de negócios ou conversas com empresas. Eu acredito que só vamos melhorar essa questão com comunicação adequada para os consumidores. Na verdade existem hoje poucas certificações sérias. Existem muitos selos que ficam por alguns anos e depois acabam. Outra maneira de fazer isso é trabalhar com as grandes empresas, explicando para elas as diferenças de cada sistema de certificação e exigindo deles que adotem os mais sérios. Assim, o consumidor vai tendo acesso cada vez mais a certificações sérias.
Amazonia.org.br - O que é uma certificação séria?
Trevisan - O certificador, no caso o Imaflora, não cria as regras. Ele audita de acordo com normas internacionais. E em uma certificação séria, essas normas são feitas numa esfera internacional, com consulta pública, com as comunidades, empresas, tem um sistema bem rigoroso. Por exemplo, o Imaflora, para fazer a certificação FSC, é credenciado pelo FSC e passa por uma auditoria. Existem hoje outras certificações que são criadas por próprias pessoas, empresas e não têm credibilidade. Elas não têm todo esse mecanismo robusto de criação de padrões, consultas com as partes interessadas. Acabam não tendo reconhecimento internacional, e se tornam mais uma questão de marketing verde do que uma certificação séria.
(Por Thais Iervolino, Amazonia.org.br, 05/04/2010)