Quarto forte sismo do ano levantou dúvidas sobre se a terra está tremendo mais do que deveria
Quando se espalhou a notícia domingo de que o México havia sofrido um forte terremoto, a primeira reação de muita gente foi exclamar: “Mais um?”. Em apenas quatro meses, já ocorreram quatro sismos com magnitude superior a 7 graus na escala Richter – dois deles destruidores e mortíferos. Os especialistas, porém, garantem que não é preciso se preocupar. Não há nada de anormal no interior da Terra.
– A atividade sísmica é normal e frequente. Não há nenhuma condição de alguém dizer que isso está sendo causado pelo aquecimento global, por exemplo. Sempre esperamos que ocorram tremores nos limites das placas tectônicas (como os terremotos no Haiti, em 12 de janeiro, no Chile, em 27 de fevereiro, e o de domingo no México) – afirma o geólogo George Sand, diretor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB).
Um dos fatores que podem causar a impressão de que a atividade sísmica no mundo está aumentando, explica ele, é o aumento da população global. Muitos dos terremotos de antigamente ocorriam em locais pouco populosos – o que, com o tempo, tende a se tornar cada vez mais raro. Além disso, vários desses tremores ainda ocorrem em lugares pouco habitados, não chegando ao conhecimento da população e causando pouco ou nenhum estrago.
– Agora, estão acontecendo vários grandes terremotos. Mas você também encontra períodos em que há um grande terremoto e nada mais acontece – acrescenta o geofísico Don Blakeman, do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), em entrevista por telefone a ZH.
As estatísticas reforçam essa explicação. Enquanto que em 2006 e 2007 o número de tremores com magnitude superior a 8 graus ficou acima da média de um por ano (ocorreram dois e quatro, respectivamente), em 2008 não ocorreu nenhum e, em 2009, somente um. E a frequência nem sempre se traduz em quantidade de mortos. Apesar dos quatro tremores de mais de 8 graus, 2007 registrou apenas 712 mortes, em comparação às 88 mil do ano seguinte.
Os especialistas explicam, também, que os terremotos não estão ligados uns com os outros.
– O tremor no Haiti não gerou o terremoto no Chile, que por sua vez não gerou o do México. Mesmo que pareça às vezes que grandes terremotos estejam relacionados, é uma situação aleatória. As pessoas que moram em locais com atividade sísmica precisam tomar precauções, porque algo eventualmente irá acontecer – ressaltou Blakeman.
Sismo no México causou duas mortes
O terremoto de domingo – de 7,2 graus na escala Richter – chacoalhou prédios da mexicana Tijuana à americana Los Angeles. No México, duas pessoas morreram e ao menos cem ficaram feridas. Cidades ficaram no escuro, forçando a saída de pessoas de hospitais e casas de saúde. O tremor teve epicentro ao sul da fronteira dos EUA com o México, perto da cidade de Mexicali. Foi um dos terremotos mais fortes a atingir a região em décadas. O impacto foi sentido por ao menos 20 milhões de pessoas nos dois países.
Uma das vítimas morreu com a queda de uma casa no Vale de Mexicali, a 18 quilômetros de onde foi o epicentro do tremor. O outro homem teria morrido atropelado por um carro após sair correndo da sua casa, em pânico por causa do tremor. Em Calexico, na Califórnia, cidade de 27 mil habitantes na fronteira, o governo declarou estado de emergência em meio a crescentes relatos de estragos.
(Por PRISCILA DE MARTINI, Zero Hora, 06/04/2010)