O papel da mídia na construção da cidadania ambiental é pauta corrente, urgente e desafiadora no processo de mudança de comportamento diante do que o planeta está a nos exigir para garantir a vida, com harmonia e decência. Apesar de ser consenso entre jornalistas, ambientalistas, ativistas e até empresários conservadores, o desafio é sensibilizar editores, diretores, proprietários de grandes veículos, empresariado e público consumidor de notícia, sobre a necessidade de informações didáticas na agregação de valor construtivo para uma interação harmoniosa entre produtor, consumidor e a matriz: recursos naturais.
Jornalistas especializados na área de jornalismo ambiental como Silvestre Gorgulho, diretor da Folha do Meio Ambiente; Washington Novaes, escritor e jornalista dedicado à área; Sinval Leão, diretor da Revista Imprensa; Nely Zulmira, criadora do Repórter ECO; André Trigueiro, do Programa Cidades e Soluções, Globo News; Vilmar Berna, da Rebia e Portal do Meio Ambiente; Dal Marcondes, da Agencia Envolverde; professora doutora Simone Bortoliere, Facom- Bahia e vice-presidente da ABJC- Associação Brasileira de Jornalismo Científico, dentre muitos e muitos outros Brasil afora, vem se especializando continuamente para ocupar demandas reprimidas.
A pauta interna das redações sobre o seu papel na construção da Cidadania Ambiental precisa de aprofundamento, cuidado com os detalhes, para a produção da informação com qualidade. Questão que requer compromisso do jornalista/repórter na disposição pessoal de investigar e confrontar fontes diversas para retratar fatos. Compromisso que deve ser extensivo aos proprietários dos veículos em sua representação histórica do poder de decisão no quê, como, quando, quanto e onde, será dada, ou não, uma informação.
A sobrevivência da mídia alternativa ambiental é pauta constante de discussão entre especialistas e o problema é sério para garantir, ou não, a publicação da próxima edição da revista, do jornal, da manutenção do site ou blogs que precisam de captação/banners, parceiros como contrapartidas financeiras para estar ou não no ar. Se as novas ferramentas midiáticas abrem possibilidades para o jornalismo cidadão, para a democratização da informação, para a inclusão digital, também coloca em cheque a qualidade e credibilidade da noticia.
Para continuar desenvolvendo trabalhos independentes, investigativos e comprometidos com a construção de uma nova forma de ver e sentir os alertas dados pelo planeta, precisamos mesmo continuar na sala de aula reaprendendo como informar bem para garantir o uso da informação em favor da vida, com qualidade. Perdemos colegas de trabalho cada dia mais cedo por problemas de saúde que poderiam ser evitados como estresse, estafa, câncer de estomago, pulmão, acidentes. No entanto, como profissionais especialistas em absorver problemas, ainda não conseguimos garantia de recursos para construir a vida, com qualidade. As empresas de comunicação, os grandes produtores de poluição, a sociedade em geral, e cada pessoa, individualmente, são chamados a mudar de comportamento. Essa mudança não tem se mostrado fácil. Historicamente não fomos educados para preservar, mas para consumir demasiadamente num modelo econômico, perverso, e agora em cheque. Ainda não temos a cultura de utilização racional dos recursos naturais rumo à construção do novo paradigma da sustentabilidade cidadã.
A Sociedade é alimentada, diariamente, por uma política perversa de consumo de água, energia, alimentos e diversos produtos originados/alimentados por cadeias produtivas insustentáveis, de ponta a ponta, desde a exploração da mão de obra do trabalhador, passando pela falta de qualidade do produto, a balanços patrimoniais com lucros exorbitantes para o produtor, sem contrapartidas de reposição da capacidade do planeta, cada dia mais limitada, em repor esses recursos. O desafio de promover o desenvolvimento, a melhoria da qualidade de vida, de forma racional, cuidadosa, planejada, disciplinada, com prazer, alegria e consciência, ainda não é uma prática comum dos humanos. Aliás, consciência é atitude rara no senso comum dos “racionais”. E quem tem e pratica com razão (cérebro), emoção (coração) e espírito (alma) é alvo de criticas debochadas e irritantes. Infelizmente a realidade aponta um caminho longo e com desafios cotidianos crescentes para a adoção de ações verdadeiramente sustentáveis.
O pensar e fazer transversal, proposto pela ex-ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva, candidata a presidente do Brasil, poderia ser lida com outro foco, como ação de valor multiplicador, em todas as esferas de decisão política, seja nas instituições do governo, Ongs e/ou paralelamente, em cada pessoa, na construção civilizada de uma cidadania ambiental.
(Por Liliana Peixinho, Envolverde, 05/04/2010)
* Jornalista, ativista sócioambiental, especializada em Mídia e RSE - Responsabilidade Social Empresarial, fundadora dos Movimentos AMA e RAMA – Rede de Articulação e Mobilização em Comunicação Ambiental www.amigodomeioambiente.com.br