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aquífero guarani águas subterrâneas proteção da água
2010-04-06 | Tatianaf

O Aquífero Guarani permanece intocável como reserva imprescindível para um mundo cada vez mais sedento, segundo um estudo detalhado dos quatro países proprietários.

Escondido no subsolo de uma vasta área de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o Aquífero Guarani é uma das maiores reservas de água doce do planeta e, além do mais, não está superexplorado nem contaminado, embora dele se abasteçam milhões de pessoas. “A saúde geral do Aquífero é boa, mas é necessário cuidar das zonas de recarga” para evitar que seja contaminado por agrotóxicos e dejetos de assentamentos humanos, alertou ao Terramérica o argentino Jorge Santa Cruz, doutor em Ciências Naturais com especialização em Geologia.

Santa Cruz, professor da Universidade de Buenos Aires, foi, entre 2003 e 2009, coordenador técnico do Projeto para a Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aquífero Guarani, a cargo dos quatro países que abrigam a reserva e que fazem parte do Mercosul. Os governos do bloco se comprometeram em manter o cuidado com o Aquífero e em dar continuidade com um trabalho conjunto para sua melhor gestão, disseram funcionários uruguaios ao apresentarem, no final de dezembro, em Montevidéu, os resultados da pesquisa financiada pelo Fundo para o Meio Ambiente Mundial, administrado pelo Banco Mundial.

O primeiro passo foi dado pelo Parlamento do Mercosul ao recomendar ao Conselho do Mercado Comum a criação do Instituto Regional de Pesquisas e Desenvolvimento da Água Subterrânea e da Proteção Ambiental, financiado pelo Fundo de Convergência Estrutural, independente e autárquico dos órgãos de gestão dos países membros. Santa Cruz recordou que 97% da água do planeta é salgada e apenas 3% doce. Deste total, 70% está em geleiras e calotas polares, 29% é água subterrânea e 1% está em rios, riachos e lagos.

“Da água subterrânea dependem para seu abastecimento diário dois bilhões de pessoas, bem como grande parte da agricultura irrigada e inúmeras indústrias em todo o planeta”, mas, em geral, a preocupação está centrada nos recursos que estão à vista, disse o especialista. O Guarani é um dos maiores aquíferos do mundo. Ocupa superfície de 1,2 milhão de quilômetros quadrados no sudeste da América do Sul, entre 12 e 35 graus de latitude sul e entre 47 e 65 graus de longitude oeste, segundo dados oficiais. O volume de água permanente é calculado em cerca de 45 mil quilômetros cúbicos e a recarga é de quase 200 quilômetros cúbicos por ano. Em alguns lugares, o recurso aflora e está a apenas 50 metros de profundidade e em outros chega a até 1.800 metros.

O Brasil é o país que abriga a maior parte do Aquífero, com 840 mil quilômetros quadrados, seguido da Argentina com 225,5 mil, Paraguai com quase 72 mil, e Uruguai com 58,5 mil quilômetros quadrados. Em algumas áreas, a água fica mais salobra, em outras pode chegar a conter arsênico ou flúor e não é potável, mas permite outros usos como o aproveitamento energético. “O Aquífero é excelente para abastecimento urbano, mas é preciso manejá-lo muito bem e cuidar onde aflora”, explicou ao Terramérica o especialista uruguaio em Hidrologia, Danilo Antón, que propôs o nome Guarani e trabalhou no projeto. A reserva é abastecida por rios, riachos e pela chuva em locais mais próximos da superfície, por onde pode haver infiltração contaminante, alertou.

Os técnicos também indicam, que o Brasil é o que mais o explora como fonte de água potável, com milhares de poços para cerca de 500 cidades, sendo a maior delas Ribeirão Preto, com um milhão de habitantes. No Paraguai há cerca de 200 perfurações, para abastecer populações rurais e uso agrícola, e no Uruguai 135, muitas usadas para finalidades turísticas graças ao fato de as águas apresentarem uma temperatura média superior a 40 graus.

No que os especialistas não chegam a um acordo é quanto à exploração geotérmica destas águas, como as das zonas termais do noroeste uruguaio ou de outros locais onde chegam a 65 graus. Antón considera que, para o aproveitamento ser rentável, a temperatura precisa ser mais alta. Mas Santa Cruz afirma que poderia servir para empreendimentos locais, como frigoríficos, viveiros, criação de frango ou piscicultura. “O ideal é buscar usos alternativos para o Aquífero, além da água potável ou banhos térmicos”, disse Santa Cruz.

O risco de contaminação poderia vir de áreas de alimentação, principalmente urbanas, por causa das fossas sépticas e industriais. Antón alertou para a situação em zonas rurais do Paraguai. “O excesso de fertilizantes ou inseticidas pode ser perigoso onde aflora, pois nestes locais o Aquífero é muito poroso”, explicou. Também entende que o Aquífero “é subutilizado”. Com bombas potentes de extração em algumas zonas seria possível obter 200 mil litros por hora, contra os 10 mil litros atuais.

Com maior exploração, o risco é que a extração supere a recarga e o Aquífero diminua, como corre com o Ogallala, nos Estados Unidos, cujo “uso irracional” faz com que possa deixar de ser produtivo em algumas décadas, disse Antón. Para ele, o Aquífero é “um recurso extraordinário” e “muito mais conhecido” do que há alguns anos, embora existam “mistérios” que não puderam ser desvendados no estudo e, por isso, a ideia é continuar com o trabalho, desta vez em particular em cada país.

(Por Marcela Valente, Terramérica, Envolverde, 05/04/2010)


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