Representantes de setores agropecuários defenderam ontem (30), no último dia do Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED), a biotecnologia, como forma de adaptação ao aquecimento global, e o aprimoramento de metodologias para avaliar o impacto da atividade agropecuária ao clima.
O evento, que foi organizado por Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), divulgou um documento final, chamado Carta de São Paulo. Nele, o setor considera que as mudanças climáticas ainda não são um consenso científico, e a questão vem sendo usada para propaganda política.
"Movimentos ambientalistas mais sectários e alguns políticos, em todo o mundo, têm se apropriado de informações científicas ainda parciais ou inconclusas para transmitir uma falsa ideia de certeza sobre as questões do clima, de forma a apressar os governos a decidir sobre medidas, principalmente destinadas a mitigar as emissões de carbono. Na realidade, essas questões do clima são complexas, pela sua própria natureza, e não se prestam a simplificações destinadas ao uso da propaganda política", diz a carta.
O documento também ataca as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, por considerá-las "não realistas", e defende que o campo de ação do setor com relação à questão ambiental esteja na produção sustentável e no desenvolvimento de novas tecnologias. "O investimento em pesquisa nos setores de energia, produção industrial e agropecuária é o que certamente produzirá os melhores resultados".
Diversidade de opinião
A carta termina afirmando a dificuldade em se atingir uma opinião única, devido à diversidade de posicionamentos presentes. De fato, estiveram no evento desde pesquisadores que negam o aquecimento global, até aqueles que já estudam formas de adaptação e mitigação frente às mudanças climáticas, por parte da agricultura e da pecuária.
Essa foi a linha de raciocínio do pesquisador da Embrapa Eduardo Assad. "Não é uma questão de acreditar, de crença. Nós analisamos dados. Numa escala de bilhões de anos, podemos dizer que a Terra está se esfriando, mas, nos próximos cem anos, vai esquentar", disse.
Assad apresentou o famoso gráfico do IPCC- Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU)-, que mostra a relação do aumento da temperatura global com as emissões de CO2, e o comparou com indicadores de diversos municípios brasileiros. Segundo o pesquisador, ao se analisarem 240 municípios, com realidades tão diferentes, como Campinas-SP e Altamira-PA, todos mostraram aumento de temperatura nas últimas décadas.
O pesquisador também disse ter preocupação sobre como a agricultura brasileira vai reagir a essa tendência, e apresentou cenários em que as mudanças do clima possam resultar em prejuízos de R$ 800 milhões ao ano, por exemplo, para o setor da produção de café arábica, e até R$ 7 bilhões, ao setor da soja.
Solução?
Assim como diz a Carta de São Paulo, Assad considera que a solução para o problema está no desenvolvimento de tecnologia - neste caso, transgênicos. O pesquisador da Embrapa defendeu a criação de plantas com genes que suportem a falta de água ou com tolerância a temperaturas mais altas.
Ele alerta, entretanto, que qualquer solução precisa ser colocada em prática logo. "Se ficarmos discutindo se o aquecimento global existe ou não, não vai dar tempo".
(Por Bruno Calixto, Amazonia.org.br, 01/04/2010)