Os ruralistas, Aldo Rebelo (PC do B-SP) à frente, haviam convocado os financiadores da SOS Mata Atlântica, como Coca-Cola, Unilever e Bradesco, para deporem na Comissão de Meio Ambiente. Como a entidade havia proposto a criação de uma lista de parlamentares exterminadores do futuro por suas ações contra o desenvolvimento sustentável, buscou-se uma forma de intimidação pública.
Através de requerimento do deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), foi aprovada ontem, na Comissão Especial do Código Florestal, convocação para ouvir as multinacionais que financiam a bancada ruralista. De acordo com a assessoria de Valente, Aldo (que teve a campanha irrigada por grandes empresas como a Votorantim e a Caemi/Vale) propôs a retirada do requerimento sobre a SOS Mata Atlântica assim que viu o que estava para acontecer. Mas, pelo menos dessa vez, o Congresso ficou sem ver uma negociata, uma vez que o deputado do Psol se recusou a retirar o pedido. Os dois requerimentos foram a votação e acabaram aprovados. Tem gente que vai sentir o gosto amargo do próprio veneno.
“Os mesmos que defendem tais mudanças na legislação ambiental são aqueles que foram contra a Lei dos Crimes Ambientais. São os mesmos que, além de defenderem quem sistematicamente descumpre a lei ambiental – como recomendou a senadora Kátia Abreu –, fazem lobby pesado junto ao governo pelo adiamento constante da entrada em vigor do decreto que determina a recuperação da reserva legal, aplicando sanções a proprietários que desmataram mais do que o permitido”, afirmou Ivan Valente em nota. Para ele, é preciso deixar claro que interesses estão por trás da atuação desses parlamentares.
Como já disse aqui anteriormente, fala-se de interesses externos de olho no solo e no subsolo da Amazônia. Culpa-se as ONGs estrangeiras que atuam aqui por isso. O problema é que parte da sociedade, parlamentares incluídos, trata disso como se o monopólio da canalhice residisse no terceiro setor, ignorando o que é feito por certas empresas e representantes do Estado.
Parlamentares raramente falam sobre a degradação ambiental, social, trabalhista causada por grupos estrangeiros e nacionais que têm interesse no tipo de “progresso” a qualquer custo. A Amazônia, o Cerrado e o Pantanal já estão internacionalizados. E não é de agora. A discussão travada hoje não é pelo acesso aos recursos e sim pelo espólio.
As convocações foram feitas. Quem não tem cartas na mão e está apenas blefando que se cuide. Quem sai ganhando com tudo isso? A sociedade, que vai receber um banho de transparência.
(Por Leonardo Sakamoto, Blog do Sakamoto, 31/03/2010)