Após palestras de céticos das mudanças do clima, como Bjorn Lomborg, afirmando que investir em ferramentas de redução de emissão de gases de efeito estufa é um desperdício financeiro que impediria o crescimento do país, pesquisadores e produtores defenderam a produção pecuária ontem (29) durante o Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED). O evento acontece desde a noite de domingo (28), em São Paulo, e foi organizado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
O segundo dia do encontro (29) contou com as participações dos professores Luiz Pinguelli Rosa, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) e Marcelo Valadares Galdos, da Universidade de São Paulo (USP), e teve a presença do diretor da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Roberto Smeraldi, que encerrou o ciclo de palestras.
Marcelo Galdos afirmou que é "injusto colocar como vilão o agronegócio", já que a principal causa de emissões é a devastação de florestas e do Cerrado, no caso brasileiro. Apesar disso, segundo ele, a agropecuária é o setor que apresenta o maior potencial de redução de emissões e remoção desses gases da atmosfera.
Luiz Pinguelli Rosa concorda que é preciso melhorar a imagem da agropecuária. "A maior fonte de emissões de gases está no setor de energia. Não é o problema da agricultura. É problema da energia, e não o problema da pecuária, que é o maior", defende o pesquisador. Ele afirmou também que os dados sobre o aquecimento global são incertos, mas os céticos estão errados em apontar uma inação e deixar tudo como está.
Sociedade de baixo carbono
Galdos apresentou para os ouvintes o conceito de "sociedade de baixo carbono", termo utilizado para designar uma sociedade que emite menos carbono em suas atividades. De acordo com ele, para se chegar a esse objetivo, é necessário, primeiro, identificar qual a "pegada de carbono dos produtos".
"Pensar o que se emite e qual o impacto ambiental para se produzir alguma coisa, basicamente, é uma abordagem de ciclo de vida. Quais são os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida? Para o suco de laranja, lá no pomar, o que se usa de adubo hidrogenado?" Exemplifica Galdos.
Segundo o pesquisador, a oportunidade também se apresenta no potencial da retirada de gases de efeito estufa da atmosfera. Para ele, existe uma grande oportunidade em conciliar a pecuária, a agropecuária e a silvicultura. Galdos também afirma que a produção de gado deveria investir em recuperação e reforma de pastagens, melhoramento genético e confinamento dos animais.
"Quero falar dessa sinergia. A gente consegue utilizar melhor as terras degradadas e fazer essa integração que hoje está sendo muito discutida. É uma maneira de você utilizar [o solo] para grãos, em certo período do ano e, na época em que o solo está em pior qualidade, você usa para pecuária", exemplifica.
Ele diz, ainda, que o consumidor tem um papel fundamental na mitigação de impactos ao meio ambiente, já que é quem irá escolher os produtos que tenham menos efeitos negativos.
Oportunidades de negócios
Em sua palestra, Roberto Smeraldi apresentou conceitos do estudo "Estimativa de Emissões Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuária no Brasil", que foi elaborado por onze pesquisadores, entre eles Mercedes Bustamante (UnB), Carlos Nobre (Inpe) e o próprio diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.
O estudo calcula as emissões de gases do efeito estufa por desmatamento associado à pecuária. Os dados da pesquisa apontam que cerca de 3/4 do total desmatado na Amazônia e 56% da área devastada do Cerrado resultaram na implantação de novas pastagens. De acordo com os dados, a pecuária da Amazônia gerou emissões entre 449 e 775 milhões de ton CO2e (gás carbônico equivalente), e a mesma atividade, no Cerrado, levou a emissões entre 229 e 231 milhões de ton CO2e. No resto do país, foram emitidos entre 84 e 87 milhões de ton CO2e pela pecuária.
Smeraldi apresentou informações que demonstram ser possível a diminuição dos impactos da pecuária ao meio ambiente. Segundo ele, é necessário mudar a abordagem de se questionar sempre quanto custa algo. "Acho que quem faz negócio, tem que se perguntar o que eu ganho com isso. O negócio é para lucrar. O custo não é o objetivo", afirma se referindo à insegurança que se tem em investir nos projetos sustentáveis.
Para o ambientalista, as principais formas de diminuir o impacto da pecuária seriam a redução do desmatamento, a eliminação do fogo no manejo de pastagens, a recuperação de pastagens e solos degradados, a regeneração da floresta secundária, a redução da fermentação entérica e a integração lavoura-pecuária, entre outras.
Outra grande oportunidade seria o comércio de carbono para financiar os investimentos necessários e atingir padrões muito mais avançados de rentabilidade e sustentabilidade da atividade pecuária.
(Por Aldrey Riechel, Amazonia.org.br, 31/03/2010)