Na última sexta-feira (26/3), assentados da região de Porto Alegre (RS) deram início à colheita da safra do arroz ecológico, no Assentamento Lagoa do Junco, na cidade de Tapes, a 103km da capital. Ao todo, foram plantados 2.104 hectares nesta safra. A estimativa de produção é de 177.767 sacas de arroz ecológico (sem o uso de venenos e adubos químicos) e em transição.
Este trabalho é realizado há 11 anos e envolve hoje oito assentamentos de seis cidades próximas a Porto Alegre. São 211 famílias assentadas integradas na atividade. Segundo o presidente da Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes (COOPAT), Tarcísio Stein, a adesão das famílias ao sistema cresce 18% ao ano, o que pode fazer com que a produção alcance, em 2012, cerca de 300 mil sacas de arroz ecológico.
O segredo, diz Stein, é os assentados se planejarem. “A nossa cooperativa consegue se auto-sustentar há dois anos, trabalhar sem custeio. Baixamos em 15% a diferença do custo de produção e o custo de fazer lavoura em relação ao ano passado. Isso ocorre porque existe planejamento, hora certa de plantar. Porque a agroecologia não tem receita, tu tem que descobrir”, diz.
A produção é organizada pelo Grupo Gestor Arroz Ecológico, formado pelos grupos de produção dos assentados, cooperativas de produção e regionais, COOPTEC (Cooperativa de Prestação de Serviços Técnicos) e Coceargs (Cooperativa Central dos Assentamentos do RS). Para o grupo, a experiência não se limita à produção de arroz ecológico ou a garantir o nicho de mercado dos ecológicos; o plantio do arroz está inserido no processo de Reforma Agrária que traz novas técnicas e a cooperação para praticar uma nova agricultura.
“O sistema convencional cria a idéia do ‘só produzir’, mas não se preocupa com o clima e nem com o meio ambiente, se preocupa com a hora certa de aplicar o agrotóxico. E isso deu arroz, aumentou a produtividade deles, mas o arroz deles gera muitos problemas de saúde. Nós optamos por outra lógica, hoje produzimos arroz orgânico que garante mais e melhor qualidade de vida”, argumenta Stein.
O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, ressaltou o trabalho feito pelos assentados. "O mais importante, do ponto de vista da Reforma Agrária, é construirmos um novo modo de produção agrícola que produza alimentos limpos, sem veneno, que empregue as pessoas e gere renda".
(Por Raquel Casiraghi, MST, 31/03/2010)