Cerca de 150 índios caingangues vindos de reservas do Interior voltaram a ocupar a Rua dos Andradas, junto à Praça da Alfândega, para comercializar seus produtos de artesanato. Embora seja normal a vinda dessas famílias indígenas na Páscoa e no Natal, este ano há vários problemas, o que preocupa os lojistas e o poder público. A Praça da Alfândega está em obras e os índios ficaram sem infraestrutura para aproveitar a área, como acesso aos sanitários e espaços para higiene pessoal ou para refeições. As famílias, então, improvisaram um acampamento, utilizando lonas e colchões. A situação ficou mais complicada com a chuva do último final de semana.
Segundo o representantes das famílias indígenas, Miguel Farias, foram necessárias improvisações. Os índios, por exemplo, utilizam os banheiros do Mercado Público ou os de algumas lojas durante o dia, mas à noite não há locais. Outra dificuldade é em relação a um espaço para fazer as refeições. "Não foi permitido colocar um fogão ou fazer um fogareiro. Assim, compramos comida pronta, que custa mais caro e diminui o lucro com a venda dos artesanatos", explicou Farias. Os índios vieram das reservas de Nonoai, Tavares, Rio da Várzea e Serrinha, e chegaram à Capital no início da semana passada.
As cestas confeccionadas pelos caingangues são uma alternativa para montar os ninhos de Páscoa. Há grande variedade de tamanhos, formatos e cores. Além disso, são vendidos ramos de macela e palha. Para encontrar uma alternativa, representantes da Funai, das secretarias municipais de Produção, Indústria e Comércio e dos Direitos Humanos e Segurança Pública, além da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), tentaram levá-los para alojamentos da prefeitura. A proposta foi rejeitada pelo grupo, diante da alegação de que nesses locais eles não poderiam trabalhar durante a noite. Segundo o coordenador do Núcleo de Políticas Públicas aos Povos Indígenas de Porto Alegre, Luiz Fernando Caldas Fagundes, a responsabilidade é da Funai.
"Diante da situação, buscamos oferecer o mínimo de recursos para eles ficarem no Centro, como colchões e alimentos. Mas não podemos assumir essa responsabilidade." O coordenador da unidade da Funai de Porto Alegre, João Maurício Farias, reconhece que faltou organização e planejamento.
Segundo ele, as comunidades indígenas têm autonomia e não houve uma manifestação formal do número de pessoas que viriam para Porto Alegre nestes dias que antecedem a Páscoa. "A notificação que recebemos era de apenas 30 índios. No entanto, vieram 150, um número muito superior ao registrado em anos anteriores", afirmou Farias, destacando que diante da falta de infraestrutura chegou a ser cogitada a possibilidade de ocuparem um dos armazéns do Cais do Porto, mas a proposta não teve sucesso. "A situação é crítica. Esperamos ampliar a interlocução com as comunidades e evitar que os índios tenham que passar por isso novamente", afirmou.
O coordenador da unidade da Funai da Capital observou ainda que o mesmo problema ocorre em outras cidades, como Passo Fundo, Pelotas e Santa Maria.
(Correio do Povo, 31/03/2010)