Moradores e moradoras do semiárido brasileiro não enfrentam somente o problema de acesso à água. O acesso à terra também é uma questão presente na vida dessas pessoas. Latifúndios, mineração e grandes obras são apenas alguns dos problemas enfrentados por agricultores e agricultoras em relação a terras.
De acordo com Gorete Silva, integrante da Articulação no Semi-Árido (ASA) Casa Nova, na Bahia, destaca que muitos agricultores e agricultoras correm o risco de perder as terras por conta de grandes projetos públicos e privados. Além disso, o "latifúndio impera" na região.
Segundo ela, enquanto há concentração de terras nas mãos de poucos, muitos agricultores vivem em pequenas propriedades. "Alguns chegam a ter cinco hectares de terras. É insuficiente para produzir", afirma, destacando ainda que, em média, cada família tem cinco ou seis filhos. "Onde essas pessoas [os filhos dos agricultores] vão produzir?", questiona.
Outro problema vivenciado por essas pessoas é a questão da mineração. Gorete destaca a situação enfrentada em muitas regiões da Bahia. De acordo com ela, vários agricultores têm a posse da terra, mas, muitas vezes, são prejudicados por conta das mineradoras. "O título garante a propriedade, e não o que tem no subsolo", afirma.
Dessa forma, Gorete explica que, mesmo sendo dono da terra, o agricultor se vê obrigado a deixar que empresas - que realizaram estudo do solo e descobriram a riqueza - explorem a área, já que o subsolo não pertence ao agricultor. Em troca, as mineradoras dão "uma quantia irrisória para ele [agricultor], que não garante a correção de todo o problema causado pela mineração". Degradação do solo, poluição do ar e da água são apenas alguns efeitos gerados pela exploração, que afeta não só a natureza, mas também a saúde dos moradores próximos da área explorada.
Para ela, a solução para o problema de acesso à terra está na discussão da questão fundiária do País. "O Brasil é campeão de latifúndio. Sem discutir a questão agrária, não há saída", considera. Gorete ainda acredita que a comunidade deve estar a par da situação e debater com o Estado. "A sociedade civil tem que debater de frente com o Estado", afirma.
Nesse ponto, Gorete acredita que a ASA precisa reforçar e "encarar de frente" a questão do acesso à terra. Até porque, para a implementação de programas de acesso à água, como o Um Milhão de Cisternas (P1MC), o agricultor precisa, primeiro, possuir a terra. "Se não tem terra, não tem construção de cisterna", lembra. Para ela, a Articulação precisa debater mais essa questão da terra. "A terra ainda é uma discussão muito tímida dentro da ASA", considera.
(Por Karol Assunção, Adital, 27/03/2010)