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etanol biocombustíveis
2010-03-29

O aumento da produção do etanol em 15% para atender a demanda pelo combustível deverá gerar cerca de 170 mil postos de trabalho em toda a cadeia produtiva. A outra boa notícia é que a qualificação desses postos de trabalho também tem aumentado.

A análise, a partir de estudo coordenado por Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), foi apresentada na Convenção Latino-Americana do Projeto Global Sustainable Bioenergy (GSB), realizada esta semana na sede da FAPESP.

A cana-de-açúcar é a cultura que mais emprega no Brasil, sendo responsável atualmente por 629 mil postos de trabalho, o que equivale a mais de um quinto da mão de obra empregada na agricultura do país, segundo Márcia, que é ligada ao Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq.

Mesmo com a mecanização da lavoura, o número de postos de trabalho aumentou no período de 1981 a 2008, especialmente por conta da expansão do setor a fim de abastecer o mercado de combustíveis, apontou o estudo. Atualmente, cerca de metade da produção agrícola é mecanizada enquanto o restante permanece com técnicas manuais.

“A mecanização tende a aumentar graças à agenda de proibição da queima da cana para a colheita, prevista em lei”, disse a pesquisadora, referindo-se à Lei n° 11.241 do Estado de São Paulo, que determina a redução gradual da queima até a sua extinção total no ano de 2031.

O aumento da mecanização levará a perdas de postos de trabalho, segundo cálculos da pesquisa. Eles apontam o desaparecimento de oito vagas, em média, para cada máquina adquirida. “A mecanização pode significar o corte de 50 mil a 100 mil postos de trabalho”, disse Márcia.

Mesmo assim, o aumento da produção de etanol deve suplantar essas perdas, gerando 170 mil postos de trabalho nos próximos anos, o que equivaleria a um aumento de R$ 236 milhões na economia.

O estudo também comparou os impactos sociais com os da indústria do petróleo, que empregava 73 mil trabalhadores no ano de 2007. “É um número seis vezes menor do que os empregados da cana-de-açúcar, que eram 465 mil naquele ano”, disse.

Além de mais numerosos, os empregos gerados pela cana são mais bem distribuídos pelo país em comparação aos do petróleo. Enquanto a produção petrolífera se concentra em uma parte da faixa litorânea, a indústria da cana está espalhada por vários Estados brasileiros, o que ajuda a estender os benefícios econômicos e sociais a mais lugares.

A desigualdade entre as regiões, no entanto, perdura dentro do próprio setor sucroalcooleiro. Enquanto no Estado de São Paulo o trabalhador recebe em média US$ 456 por mês (o equivalente a R$ 820), no Nordeste a média salarial fica em torno de US$ 349 (R$ 630). Em todo caso, o setor paga, em média, 51% a mais do que o salário mínimo nacional.

A diferença no tempo de escolaridade também é latente no setor e considerada baixa em todo o país. Os empregados com maior tempo de estudo atuam em São Paulo e possuem em média 5,4 anos de estudo. No Nordeste, a média cai para 3,1 anos.

“O setor também concentra um grande número de empregados analfabetos, totalizando 24% de toda a mão de obra, uma multidão de 120 mil trabalhadores”, ressaltou Márcia.

Treinamento e ensino
Mas a pesquisa também levantou que a qualificação do trabalhador e a qualidade do emprego do setor têm aumentado. A cana-de-açúcar possui 81% de seus trabalhadores formalmente contratados, uma exceção no setor agrícola nacional, que tem apenas 40% de sua mão de obra com carteira de trabalho assinada.

“Isso significa que eles estão protegidos pela legislação e gozam de direitos como férias remuneradas, seguro social e fundo de garantia”, apontou a professora da Esalq.

O trabalho infantil no setor também foi praticamente erradicado desde 1981, segundo o estudo. Naquele ano, 15,3% dos trabalhadores da cultura de cana-de-açúcar tinham entre 10 e 15 anos de idade. Em 2008, os menores de idade eram 0,09%. “Isso se deve a políticas governamentais de incentivo, a uma fiscalização mais acirrada e a uma pressão do próprio mercado”, disse Márcia.

A necessidade de aumento na qualificação, no entanto, permanece. A pesquisadora citou o esforço da União Nacional da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), que recentemente promoveu o treinamento de 7 mil trabalhadores a fim de que se qualificassem para operar máquinas agrícolas.

Segundo Márcia, a baixa escolaridade ainda presente pode significar um gargalo importante na expansão do setor e, para contorná-lo, serão necessárias tanto estratégias da iniciativa privada como políticas públicas específicas.

(Por Fábio Reynol, Agência FAPESP, 26/3/2010)


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