(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
hidrelétrica de belo monte impactos de hidrelétricas
2010-03-29 | Tatianaf

A “mexidinha” de R$ 3 bilhões a mais nos cálculos dos custos de Belo Monte não é só resultado das condicionantes exigidas na LP, como quiseram fazer crer. Os quase 74% desse valor foram adicionados à conta da construção do canteiro de obras e embutidos sub-repticiamente na esteira da licença ambiental. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) se justificou dizendo que os cálculos foram “subestimados” pelas três maiores empreiteiras do Brasil e a Eletrobrás.

No final de 2009 o Tribunal de Contas da União (TCU) analisou os custos da hidrelétrica Belo Monte no rio Xingu para subsidiar o leilão de contratação de energia. Faltavam, conforme as determinações do Acórdão nº131/2010-Plenário, de 3/2/2010, os Custos Socioambientais decorrentes das condicionantes da Licença Prévia (LP), a revisão do Custo de Capital Próprio e de Capital de Terceiros, a Atualização do Orçamento e a Atualização do Custo Marginal de Referência (CMR).

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as condicionantes da LP implicariam aumento dos custos socioambientais. Além das atualizações decorrentes das determinações proferidas pelo Tribunal, a EPE apresentou, também, uma revisão do orçamento do empreendimento. Informou ao TCU que essa revisão do orçamento ficou restrita à conta 17, aquela que se refere aos custos indiretos com canteiros e acampamentos, à logística e à manutenção e operação do canteiro.

As condicionantes da LP teriam elevado o valor dos custos socioambientais em R$ 801 milhões, diferente dos R$ 1,5 bilhão anunciados pelo Ministro de Meio Ambiente, Carlos Minc, depois da emissão da LP. Com a revisão do orçamento, o custo direto total (CDT) passou, então, de R$ 16 bilhões para R$ 19 bilhões. Esses R$ 3 bilhões a mais foram atribuídos pela mídia apenas às condicionantes ambientais da LP. Nenhuma palavra foi dita sobre a revisão das verbas para implantação do canteiro de obras e acampamentos, manutenção e operação. Fomos pesquisar.

Ai é que entra o espetáculo de prestidigitação, uma verdadeira mágica engendrada pela EPE com o aval TCU, numa bem orquestrada esperteza da EPE e dos responsáveis pelo Estudo de Viabilidade Técnico-econômica (EVTE) nas contas do projeto de Belo Monte, no rio Xingu.

Analisando o relatório complementar do TCU do dia 17 de março último é possível descobrir a detalhes sobre esses custos. No item referente ao canteiro de obras ( considerado custos indiretos), segundo a justificativa da EPE, “foram subestimados [os valores] pelos desenvolvedores do EVTE” -“esqueceram” de considerar o fato de que o empreendimento estaria longe de um grande centro. Ao contrário das obras de Santo Antônio e Jirau que têm proximidade de Porto Velho, Belo Monte não contaria com a mesma infra-estrutura, ainda segundo a EPE.

O CDT de Belo Monte estava estimado, antes da revisão, em R$ 16 bilhões e o custo do canteiro de obras era o equivalente a 4% desse montante ou R$ 640 milhões. Toda essa história está no próprio relatório do TCU, diga-se. No entanto, em tempo de corrigir o “esquecimento” dos empreendedores, a EPE recalculou esse custo, aprovado pelo TCU, que subiu de R$ 640 milhões para espantosos R$ 2,85 bilhões. Ou seja, o valor inicial para construção do canteiro de obras aumentou mais de quatro vezes. Comparativamente, é como se uma casa com custo de construção de R$ 64 mil passasse para R$ 285 mil sem se alterar o projeto.

Vejamos o resumo do novo cálculo: (i) canteiro de obras – R$ 2,21 bilhões a mais (R$ 2,85 bilhões menos os R$ 640 milhões do cálculo inicial) (ii) custos socioambientais – 801 milhões a mais (iii) aumento de mais de R$ 3 bilhões no CDT previsto para Belo Monte (de R$16 bilhões passou a R$ 19 bilhões).

Essa “mexidinha” de R$ 3 bilhões nos cálculos dos custos de Belo Monte não é só resultado das condicionantes exigidas na LP. Os quase 74% desse valor adicionados para construir o canteiro de obras, cujas “dificuldades” só se percebeu posteriormente, foram embutidos sub-repticiamente na esteira da licença ambiental. Note-se que os responsáveis pelos tais cálculos “subestimados” são as três maiores empreiteiras do Brasil e a Eletrobrás. Elas erraram?

Os R$ 2,85 bilhões (depois da revisão são 15% do CDT) calculados para a construção do canteiro de obras dariam para construir 95 mil casas populares de 45 m² (segundo custos CUB/SINDUSCON) de 2 dormitórios, sala, cozinha, banheiro e varanda. Consideremos que essas 95 mil casas abrigariam 380 mil pessoas que é mais que o dobro dos habitantes dos municípios da região que sofreriam os impactos da usina de Belo Monte.

Outro ponto a ser considerado é que o canteiro de obras usado como pretexto para aumentar a conta e assim satisfazer as empreiteiras, deve ser desmontado depois de construídas as barragens, casas de força e os canais de adução e derivação. Portanto esses R$2,85 bilhões seriam descartados, mas teriam servido para que parte substancial deles fosse incorporada, como lucro de construção, ao caixa das empreiteiras e ainda acrescida da isenção de PIS e COFINS, já que as obras de Belo Monte foram incluídas no Regime Especial de Incentivo para Desenvolvimento da Infra-estrutura (REIDI), por sugestão do próprio TCU. Além de tudo isso, o dinheiro do canteiro de obras entraria antes do início das obras, ou seja, seria lucro antecipado! Construir mega-barragens é um grande negócio.

Tem mais ainda. Os R$ 2,85 bilhões - chamados de custos indiretos – do item referente ao canteiro de obras são 15% do Custo Direto Total (CDT) do empreendimento (ver tabela). O total de todos os custos indiretos, então, passou de 10,8% do CDT para 22,7% do CDT. Para isso também há uma explicação da EPE, lógico, aprovada pelo TCU.

O TCU já havia questionado a EPE, no licenciamento de Jirau, quanto à faixa de percentuais em que se situariam os chamados “Custos indiretos” de empreendimentos hidrelétricos - canteiros de obras em especial – e a Empresa respondeu que esses custos eram obtidos “com base nas informações disponíveis na própria EPE”. Essas “informações disponíveis” não foram fornecidas pela EPE e o relatório do TCU, bastante leniente, confirmou não ser possível, então, avaliar sua pertinência. Ou seja, critérios não transparentes levam a cálculos mirabolantes de mirabolantes projetos na Amazônia como o também agora “birabolante[1]” canteiro de obras de Belo Monte e aceitos pelo TCU que manteve sua “coerência” em relação às contas das “birabolantes” usinas do Madeira. Números também “birabolantes”!

Baseados na comparação com Jirau e Santo Antônio, o TCU questionou os valores iniciais para os custos indiretos de Belo Monte e recomendou à EPE que refizesse os cálculos para que os Custos Indiretos ficassem em faixa semelhante. “Em Belo Monte, antes da atualização, os custos indiretos representavam 10,8% do CDT [Custo Direto Total]. Com a revisão, esta porcentagem passou para 22,7%, aproximando-se do que foi considerado em Santo Antônio, 21,3% do CDT, e Jirau, 21,6% do CDT.” Outra tabela mostra os comparativos.

Disso tudo podemos depreender que (i) os custos indiretos de Belo Monte referentes ao canteiro de obras, inicialmente, R$ 604 milhões (4% do CDT), estavam conflitantes com os critérios dos custos já aprovados das usinas de Santo Antônio e Jirau, com as características semelhantes de grandes hidrelétricas na Amazônia (ii) o TCU já havia aprovado os parâmetros da EPE para os custos indiretos de Santo Antônio e Jirau, não poderia justificar para Belo Monte outra faixa 50% menor (iii) a EPE revisou apenas e curiosamente os custos indiretos referentes aos Canteiros e Acampamentos (iv) essa revisão foi responsável pelo reposicionamento do valor de Belo Monte, que antes era da ordem de R$ 16 bilhões, passando a ser de R$ 19 bilhões (v) a EPE divulgou que o aumento do valor era decorrência das condicionantes da LP (vi) o CMR – preço teto - do MW/h para o leilão, por conta das alterações promovidas pela EPE, passou de R$ 68 para R$ 83 levado pelo “birabolante” canteiro de obras.

O Ministério Público deve pedir as planilhas e memórias de cálculo ao TCU, à EPE e à ANEEL para que a sociedade possa entender melhor os parâmetros utilizados para se chegar aos custos das grandes obras do PAC. Já está mais do que provado que Belo Monte é desnecessária e agora se pode ver para quem servirá e a quem beneficiará. Por enquanto só enxergamos benefício$$ para os ganhadores do leilão.

(Por Telma Monteiro, Blog Telma Monteiro, 27/03/2010)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -