O cineasta James Cameron, diretor do filme Avatar, analisou neste sábado os efeitos que a construção da usina de Belo Monte pode trazer para o país, e o risco do empreendimento para as populações que moram na região. Ele fez uma analogia com sua mais recente superprodução, que conta a história de uma população que tenta defender seu habitat de invasores que querem explorar um raro mineral.
Cameron citou a incerteza em relação às populações indígenas que habitam a região, as populações ribeirinhas, que terão sua vida alterada pela mudança no curso do rio Xingu, e disse que, no filme, os Nav'i, habitantes de Pandora, também estavam sob a ameaça de uma grande mudança "mas, ao contrário do filme, isso está realmente acontecendo".
Cameron é a grande estrela do Fórum Internacional de Sustentabilidade que teve início nesta sexta e termina hoje, em Manaus. O evento reúne cerca de 300 líderes empresariais para discutir a sustentabilidade econômica, ambiental e social da Amazônia. Ao final de sua palestra, o cineasta foi apresentado a Jecinaldo Saterê, índio saterê mawé que é secretário de Estado do Amazonas para Assuntos Indígenas.
O cineasta citou várias vezes as populações indígenas brasileiras em sua fala. Disse que os índios brasileiros foram inspiração para criar a cultura e os costumes dos Nav'i mostrados em Avatar. "Criei o filme baseado em leituras e pesquisas da cultura indígena, incluindo povos da Amazônia. Os Nav'i estão conectados a todo tipo de energia da natureza, creem que a energia você pega emprestada da terra e tem que devolver depois".
O diretor disse que o filme foi pensado para "lutar contra a negação" dos problemas ambientais do planeta. E o sucesso da produção, na análise de Cameron, é um indicador de que "as pessoas estão prontas para acordar para o problema". "Avatar foi pensado para criar uma resposta emocional para combater o problema. A ficção nos permite olhar para esse mundo moribundo que é o nosso. Isso não é uma condenação, mas chama para a ação".
Heróis
A ajuda para mudar a situação de agressão à natureza, destacou o cineasta, deve vir também dos empresários. "A sociedade precisa de homens e mulheres corajosos, pessoas dispostas a tomar posição".
Cameron parabenizou o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), por manter 98% da floresta preservada no Estado. No final, disse que os empresários presentes ao evento também poderiam ser "clonados" para se transformar em guardiões da floresta.
"Avatar foi sucesso em todos os mercados em que foi exibido. Esse sucesso mostra que as pessoas estão prontas para a mudança".
Avatar 2
O diretor também voltou a negar que tenha planos de filmar a sequência de Avatar na Amazônia venezuelana, dizendo que a produção será idêntica à primeira, feita toda em computador.
"Nem mesmo uma folha de árvore do planeta Pandora era real. Trabalhamos em um mundo virtual. Tem essa história estranha de filmar na Venezuela, mas é melhor parar com os boatos, porque eu nunca tive essa intenção".
(Por Cláudia Andrade, Terra, 27/03/2010)