Lideranças do movimento indígena do Amazonas entregaram hoje (26), ao ex vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, uma carta em defesa do meio ambiente. O documento, entregue no Fórum Internacional de Sustentabilidade, visa alertar as lideranças mundiais quanto à preservação e conservação da natureza.
Os indígenas também defendem os diferentes povos de ameaças de extinção ou isolamento, reconhecendo sua existência e garantindo sua integridade física, moral, cultural e a inviolabilidade dos direitos conquistados.
Assinaram a carta o secretário de Estado para os Povos Indígenas, Jecinaldo Sateré-Mawé; o titular da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marcos Apurinã; o líder indígena do Baixo Amazonas e prefeito de Barreirinha, Mecias Pereira Batista; a gerente de Atenção às Mulheres Indígenas, Maria Miquelina; o representante da Crianças Indígenas, Tchiwá Sateré; e o líder espiritual (pajé) Raimundo Veloso Vaz.
Confira o conteúdo da carta:
Carta dos povos indígenas do Amazonas às lideranças mundiais em defesa ao meio ambiente
Os Povos Indígenas do Amazonas vem cumprimentá-las respeitosamente, e saudar as lideranças mundiais em defesa da humanidade e do meio ambiente pela honrosa presença e atenção ao estado do Amazonas.
O estado do Amazonas é a maior unidade federativa do Brasil. Possui 60% da população indígena, a saber: 64 povos indígenas com 29 línguas faladas, e mais de 140.700.000 hectares de áreas protegidas em territórios indígenas, o que corresponde aproximadamente 30% das terras do Estado do Amazonas. Essa população, composta de mais de 134.000 indígenas, habitantes de 178 terras indígenas, com mais de 134.000 índios, vem por meio desta dirigir-se, respeitosamente, às lideranças mundiais aqui presentes.
A nossa “Mãe Natureza” contemplou a região Amazônica, provendo-a com grande diversidade de recursos naturais, riquezas culturais e étnicas, que foram conservadas e preservadas pelas diferentes formas de organização de uso e costumes tradicionais garantindo a existência dos povos indígenas aqui existentes. Este documento visa alertar as lideranças mundiais que se fazem presentes neste evento e que lutam pela paz mundial, preservação e conservação da natureza. Além disso, defendem os diferentes povos da ameaça de extinção e seu isolamento, reconhecendo sua existência e
garantindo sua integridade física, moral, cultural e ainda a inviolabilidade dos seus direitos conquistados.
Com o intuito de preservar e conservar o meio ambiente, esses povos exigem que sejam adotadas políticas governamentais e não governamentais que incorporem a cosmovisão local, levando as necessidades específicas e diferenciadas em atendimento às áreas da saúde, da educação, do meio ambiente e do bem estar social, proporcionando a melhoria na qualidade de vida desses povos.
Afirmamos aqui, nossa preocupação aos impactos causados ao meio ambiente, em particular as mudanças climáticas que trarão conseqüências à vida dos seres que vivem em nosso Planeta. Para tanto, esses povos da Amazônia requerem aos países desenvolvidos e à Organização das Nações Unidas que priorizem, urgentemente, ações que visem a mitigação e adaptação às mudanças ambientais, considerando o saber empírico desses povos, por meio do reconhecimento e da valorização dos sistemas socioculturais.
Como estratégia de mitigação existente na Amazônia, as demarcações das terras indígenas são exemplos comprovados na diminuição do desmatamento e armazenamento de carbono florestal, desta forma esses povos solicitam o reconhecimento e a aplicação dos seus direitos territoriais e que estes sejam reconhecidos como uma importante estratégia no enfretamento às mudanças climáticas.
No momento aproveitamos a oportunidade da presença das lideranças mundiais, que levem esta mensagem ao conhecimento do mundo inteiro, da nossa preocupação em relação ao nosso futuro e o da humanidade. Que seja respeitada a “Mãe natureza”, o meio ambiente, principalmente, os saberes dos povos indígenas da Amazônia, que tem na sua base a identidade, a história, a geografia, a memória coletiva como instituições produtivas e reprodutivas e que não causam impactos socioambientais à continuidade da vida na Terra.
Saudações dos Povos Indígenas do Amazonas.
Manaus, 26 de março de 2010. (LG)
(Portal Amazonia, 26/03/2010)