Pela primeira vez cientistas quantificaram e modelaram em escala regional o impacto das mudanças climáticas na vida vegetal para as próximas décadas e os resultados preocupam ao mostrar a queda na variedade das espécies.
Se o aumento da temperatura se confirmar como predizem os cientistas climáticos, áreas até então temperadas irão se aquecer e as espécies desses locais tendem a se espalhar por regiões maiores. Já os trópicos e sua rica flora sofreriam a perda de variedade devido à falta de chuvas e ao forte calor.
As perdas de espécies nos trópicos em conjunto com a proliferação de plantas de zonas temperadas poderão levar a uma “globalização” do mundo vegetal. Essa uniformização da flora é uma das principais conclusões do estudo “Projected impacts of climate change on regional capacities for global plant species richness”, publicado nesta semana no periódico Proceedings of the Royal Society.
Realizado por pesquisadores das Universidades de Bonn, Göttingen e Yale, o estudo investigou o número de espécies encontradas em diferentes regiões sob as atuais condições climáticas e em seguida projetou como essas espécies reagiriam em 18 cenários diferentes de mudanças climáticas para o ano de 2100.
“As mudanças climáticas podem trazer grande confusão para o padrão existente da diversidade das plantas, com conseqüências que ainda nos são desconhecidas para os ecossistemas e para a humanidade”, afirmou o cientista Jan Henning Sommer, da Universidade de Bonn.
O estudo não permite conclusões absolutas sobre que espécies irão desaparecer, se adaptar ou migrar para outras regiões. “Isso seria prever o futuro como uma cartomante. A capacidade de adaptação das espécies e sua interação com o ecossistema ainda são incertos, assim como o uso da terra pelo homem, que pode exercer grande influência na distribuição das plantas. Esse é um campo que sabemos muito pouco”, explicou Sommer. Entretanto, ainda assim os resultados da pesquisa fornecem importantes dados sobre as tendências de migrações ou desaparecimento das plantas.
Os piores efeitos do aquecimento global para a flora deverão ser sentidos na Amazônia. Por sua vez, regiões temperadas devem ganhar mais vida vegetal. O que revela uma ironia, os grandes poluidores históricos, principais responsáveis pelo aquecimento global, como Estados Unidos e Europa, estão justamente em áreas que tendem a se beneficiar com o aumento das temperaturas.
Mas os cientistas alertam que isso não significa um novo equilíbrio da vida vegetal. “Não haverá redistribuição de espécies, o que projetamos é que um grande número de espécies nativas dos trópicos tende a desaparecer e algumas espécies de zonas temperadas ganharão mais terreno. Veremos ecossistemas mais uniformes”, comentou Sommer.
Segundo o pesquisador, se as políticas se mantiverem tímidas como foi visto na Conferência do Clima de Copenhague, estamos fadados a um aumento de até 4°C até 2100. “Se isso acontecer, a perda projetada das espécies nos trópicos ultrapassa em muito o ganho pelo aquecimento e o aumento da vida nas regiões temperadas”, explicou.
“Políticos de todo o mundo deveriam prestar mais atenção ao impacto das mudanças climáticas na biodiversidade, pois ela é a base para a existência do homem”, concluiu o professor Wilhelm Barthlott, diretor do Instituto Ness de Biodiversidade de Plantas e co-autor do estudo.
(Por Fabiano Ávila, Carbono Brasil, 26/03/2010)