A água sempre foi um dos principais problemas para a população no semiárido. Para ajudar a lidar com essa situação, surgem vários projetos e programas com o intuito de melhorar a vida das pessoas que vivem nessa área. No entanto, nem todos os projetos se revelam totalmente benéficos para essa população.
Roberto Malvenzzi (Gogó), assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), considera as ações da Articulação no Semiárido (ASA) - como os Programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2) - como um passo importante para a questão da água no semiárido. Para ele, projetos como esses seguem o caminho de "uma nova cultura da água", ou seja, de aproveitamento da água e de entendimento do clima do semiárido.
Segundo ele, esses projetos vão de encontro com a visão que ainda existe de que se deve explorar ao máximo os recursos, como é o caso da transposição do rio São Francisco. "Existe a mentalidade que se materializa, na forma mais simbólica possível, na transposição do rio São Francisco. Essa leitura, essa compreensão de que se deve explorar os mananciais até o limite. Muitas vezes para além do limite", considera.
Para ele, "há uma inversão na prioridade do Governo" nessa questão da transposição. Isso porque, na opinião de Malvenzzi, o uso econômico da água está sendo priorizado na obra em detrimento do uso humano. De acordo com ele, essa transposição não garante a distribuição de água para a população.
Prova disso é que, segundo ele, até mesmo o Governo está preocupado com essa situação. De acordo com o assessor da CPT, fontes seguras dele dentro do Governo já demonstraram preocupação com a possibilidade da transposição beneficiar o agronegócio e o povo ficar de fora.
Até mesmo a população que deveria ser beneficiada com a obra, como Ceará e Paraíba, está mobilizada contra a transposição. De acordo com Malvenzzi, muitos prefeitos desses estados chegaram a sair da frente a favor da transposição. A sociedade, por sua vez, também começa a responder contra a obra. "Ceará e Paraíba estão tendo uma reação mais organizada", afirma, destacando que cresce, nesses estados, uma "cultura de melhor aproveitamento da água".
Atraso nas obras
De acordo com Malvenzzi, é difícil saber como está o andamento das obras, mas, apesar da aceleração, ele acredita que devem estar atrasadas. "Eu tenho a impressão que, mesmo com a aceleração, as obras estão muito mais atrasadas do que deveriam estar", comenta.
(Por Karol Assunção, Adital, 24/03/2010)