Parte dos agricultores da Zona Rural da cidade de Vitória do Xingu, no Pará, será retirada de suas terras em razão da obra da Hidrelétrica de Belo Monte, segundo o projeto do governo. Para a maioria dos produtores ouvidos pela reportagem do G1 falta informação sobre o que realmente vai acontecer no local.
"Todo mundo acha que é ruim porque não tem informação. Minha terra não tem documento e tenho medo de perder tudo. Mesmo assim, indenização não compensa o tanto que a gente investiu na terra. Uma coisa grande que vai ter aqui é prejuízo", afirma Sandro Otto, que planta cacau em uma fazenda de cinco alqueires, onde mora com a mulher e os dois filhos pequenos.
O G1 está na região de Belo Monte e publica nesta semana uma série de reportagens sobre o tema.
Vitória do Xingu, cidade com cerca de 10 mil habitantes, é um dos municípios que vai sediar a usina de Belo Monte, prevista pelo governo federal para ser a segunda maior do país. O município fica bem no trecho da hidrelétrica em que devem ser abertos canais para desviar a água do Rio Xingu até um reservatório para a geração de energia.
Altamira e Vitória do Xingu serão as cidades mais afetadas pela usina tanto na parte física, com os alagamentos, quando na parte de mão de obra. Os dois municípios terão alojamentos para alocar os trabalhadores que atuarão na construção. As cidades de Anapu, Brasil Novo e Senador José Porfírio também serão atingidas.
Em menos de um mês, em 20 de abril, o governo fará o leilão que definirá a empresa que executará a obra. Ao vencedor, também caberá dar assistência aos moradores locais, uma vez que a licença do Ibama tem dezenas de condicionantes que devem ser cumpridas pela vencedora do leilão.
Também produtor de cacau - como a maioria dos pequenos produtores -, Roberval Colombo, de 30 anos, diz que não quer que Belo Monte aconteça. Ele tem 15 alqueires, em terras não legalizadas, e os três filhos menores moram com ele na região. "Esse negócio da indenização já tem tantos anos que falam, nunca fui contra. Eles só tinham que explicar direitinho."
Produtor de cacau, Geraldo Dias tem 100 hectares de terra e disse: "Não estou preocupado, só estou preocupado que não me indenizem. Mas se me perguntarem eu acho que não sai não [a hidrelétrica]. Cheguei aqui em 83 e já era essa mesma história."
A professora Dalva Alves Moscom enxerga prosperidade para a região. "A gente sabe que vai ter destruição, mas também esperamos que haja desenvolvimento", opina.
A agricultora Maria Farias, esposa de Pedro, destacou que falta informação, mas revelou nunca ter ido às audiências públicas. "A gente está aqui desde 1998 e largar tudo assim é difícil. Ninguém fala se vai sair ou não, mas alguma coisa vai acontecer porque os canais passam bem aqui atrás [da propriedade], diz Maria.
O governo federal informou que a Eletrobrás, responsável pelos estudos, comunicou todas as famílias da área de Belo Monte que serão retiradas.
(Por Mariana Oliveira, G1, 24/03/2010)