A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, enfatizou ontem, Dia Mundial da Água, que para a política externa de seu país é fundamental abordar os desafios mundiais relativos a este recurso. “Para os Estados Unidos a água representa uma das grandes oportunidades diplomáticas e de desenvolvimento de nosso tempo. Nem todos os dias se encontra um assunto onde a diplomacia efetiva e o desenvolvimento permitem salvar milhões de vidas, alimentar os famintos, dar poder às mulheres, promover nossos interesses de segurança nacional, proteger o meio ambiente e demonstrar a milhares de milhões de pessoas que os Estados Unidos se preocupam”, afirmou.
A água “cria precedentes para a diplomacia preventiva”, onde os problemas são abordados cedo e de modo pró-ativo”, acrescentou Clinton. Seu discurso foi um item de uma série de acontecimentos realizados em Washington pelo dia Mundial da Água, celebrado ontem, desde 1992, quando a organizações o criou para centrar a atenção nas crises hídricas e em suas soluções. Dezoito anos mais tarde, essas crises se tornaram mais imediatas. As geleiras e a neve do Himalaia e da África oriental estão desaparecendo, como os rios e as correntes das quais se alimentam.
O Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) prevê que entre 75 e 250 milhões de africanos se verão mais afetados pela falta de água até 2020. Mas a mudança climática é apenas uma parte da equação. O aumento da população mundial, o saneamento de má qualidade e o uso insustentável da água destinada a cultivos e domicílios contribuem para pressionar o ciclo da água que mantém a vida na Terra, colocando em perigo tanto a quantidade como a qualidade do recurso mais importante do planeta.
A Organização Mundial da Saúde diz que a escassez de água afeta uma em cada três pessoas em cada continente, e que a quinta parte da população vive em áreas que sofrem essa situação. Um quarto da população mundial enfrenta escassez de água devido à falta de infraestrutura para transportá-la desde rios e aquíferos. Estas não são questões humanitárias, mas também de segurança, disse Hillary. “E é por isso que o presidente Obama e eu reconhecemos que os assuntos da água são parte integral do êxito de muitas de nossas principais iniciativas de política externa”, acrescentou.
A secretária também destacou que abordar a escassez de água e sua qualidade e essencial porque “a estabilidade de governos jovens no Afeganistão, Iraque e em outras nações depende em parte de sua capacidade de dar ao seu povo acesso à água e ao saneamento”. Entre os demais projetos específicos que devem ter em conta as questões relativas à água, Hillary citou a Global Health Initiative (iniciativa de saúde mundial), que compromete US$ 63 bilhões ao longo de seis anos para melhorar a saúde infantil e combater doenças que podem ser prevenidas nos países mais pobres.
Os efeitos da falta de acesso à água ou ao saneamento são conhecidos. Um informe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgado ontem diz que 1,8 milhão de menores de cinco anos morrem por falta de água limpa. O estudo também diz que a diarréia, principalmente causada pela água suja, mata cerca de 2,2 milhões de pessoas por ano, e que aproximadamente a metade dos leitos hospitalares do mundo está ocupada por quem sofre “doenças vinculadas à água contaminada”.
Hillary também destacou os esforços do governo para promover a segurança alimentar, dizendo que “70% da água usada no mundo é dedicada à agricultura” e que abordar os temas hídricos ajudará os Estados Unidos a potencializar as mulheres no mundo. Um manejo melhor de algumas destas bacias pode aumentar o bem-estar da população a ponto de tirar parte dela da pobreza, acrescentou. No futuro próximo, os problemas da água serão ainda mais angustiantes do que agora, ressaltou.
“Em 2025 – dentro de apenas 15 anos – quase dois terços dos países serão alvo de pessoas hídricas e 2,4 bilhões de pessoas enfrentarão uma absoluta escassez de água, a ponto de uma falta de água ameaça o desenvolvimento social e econômico”, disse a secretária de Estado. Hillary Clinton fez seu discurso como parte de um ato sobre água potável e saneamento na Sociedade Geográfica Nacional. Também em Washington, ontem houve mesas-redondas sobre estes temas no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Ativistas se reunirão hoje em Washington para pressionar o Congresso a adotar programas sustentáveis em matéria de água, saneamento, higiene e saúde infantil, como parte do segundo dia de comemorações do Dia Mundial da Água nos Estados Unidos. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) realizará em 23 de abril a primeira reunião anual de alto nível sobre água e saneamento na capital dos Estados Unidos. Espera-se a presença de ministros das Finanças e de Desenvolvimento de vários países.
(Por Matthew Berger, IPS, Envolverde, 23/10/2010)