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rio dos sinos comitesinos
2010-03-23 | Tatianaf

A guerra pela água já não é mais roteiro de ficção científica como ouvíamos falar há algum tempo. Hoje, Dia Mundial da Água, essa realidade está à porta de nossa casa, ou melhor, das torneiras. Segundo levantamento feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2008, os recursos hídricos serão um dos principais motivos que levarão países a entrarem em conflito nos próximos 25 anos.

Hoje é o Dia Mundial da Água e, no dia 17 de março, também foi comemorado o Dia do Rio dos Sinos. Aproveitando as duas datas, o Jornal NH convida o leitor a refletir sobre o uso consciente da água e as lições que o Rio dos Sinos nos dá. Depois de muitos anos recebendo lixo, resíduos químicos de indústrias e esgoto cloacal e, mesmo assim, abastecendo a população da região, o nosso maior bem hídrico deu seu grito de socorro em outubro de 2006, mostrando o quanto estava doente. A mortandade de mais de um milhão de peixes voltou os olhares do mundo inteiro para a região. O fato fez com que as pessoas acordassem e percebessem que o rio estava morrendo.

Hoje a região corre atrás do prejuízo e está investindo na recuperação deste paciente que já dá mostras de sua melhoria. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) analisa o índice de qualidade da água, atribuindo notas de 0 a 100. Em 2006, a água da foz do Arroio Portão recebeu nota inferior a 10, hoje a avaliação está em 46. "O volume de chuva ajuda a diluir a poluição, aliado às ações ambientais que estão sendo feitas. Melhorou muito, mas a situação ainda preocupa", analisa o químico da Fepam, Enio Leite.

O surgimento de organizações para discutir e agir para salvar o Rio dos Sinos foi mais uma prova das lições que ele nos dá. Entidades como S.O.S Rio dos Sinos, Comitesinos e Consórcio Pró-Sinos dão conta de que a população está se mobilizando para que o nosso maior bem hídrico não volte para a UTI.

O que está sendo feito pelo Rio dos Sinos?
Os investimentos no Rio dos Sinos vão desde a educação ambiental dos pequenos na escola até grandes volumes de recursos aplicados pelo poder público. Hoje, o maior problema é o esgoto cloacal que ainda é despejado por meio de arroios que desaguam no rio, responsável por 80% da poluição, conforme a Fepam. Em Novo hamburgo, apenas 2% do esgoto é tratado. Para resolver situações como esta é que organizações se formaram para que a sociedade decida ações e trabalhe para a melhoria do rio. Conheça um pouco de cada uma delas e o que faz.

S.O.S. Rio dos Sinos

Em janeiro de 2006, a funcionária pública aposentada Dione Dias de Moraes recebeu, por e-mail, uma foto denunciando a situação do Rio dos Sinos. "Parecia um riachinho, sem água nenhuma", conta ela. Foi então que resolveu promover um grande seminário em Novo Hamburgo para mostrar o problema às autoridades. "Todos ficaram chocados, pois ninguém sabia que o rio estava daquele jeito", lembra Dione. No evento, ficou acordado que os arrozeiros passariam a aderir ao Programa de Racionalização do uso da Água. Assim foi criada a entidade S.O.S Rio dos Sinos, que hoje envolve mais de cem voluntários que realizam discussões e, principalmente, ações como o mutirão de limpeza nas margens do rio. Conforme a presidente, os resultados seguem aparecendo. "Desde o dia 12 de dezembro de 2008 não houve mais lançamento de produtos de curtumes sem tratamento no Arroio Pampa", garante Dione, que fiscaliza as empresas em parceria com a Brigada Militar e Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).

Comitesinos
O Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos – Comitesinos, surgiu em 17 de março de 1988, a partir de conflitos sobre o uso da água na região. É uma entidade que congrega população, usuários (companhias de abastecimento, indústrias e lavouras ) e o poder público. "O Comitesinos serve para planejar o uso da água. Somos 4% da água do Estado e temos 20% do PIB, isso é um conflito que estamos tentando gerenciar", explica o presidente, Sílvio Klein. Atualmente, a entidade realiza um estudo técnico para analisar o quanto de água tem disponível para os próximos anos e, com isso, fazer um acordo com a população, que vai decidir como este bem será usado, propondo metas e também multas para quem desobedecer o Plano de Bacia, uma espécie de Plano Diretor do Rio dos Sinos. Dentro de até dois anos, o plano deverá estar em vigor. Por meio do Comitê, também estão previstos R$ 1,3 milhão da Petrobras para recuperar 300 hectares de mata ciliar às margens do rio.

Consórcio Pró-Sinos
O Consórcio Público de Saneamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos) é uma autarquia que une todos os municípios por onde passa o rio. Presidida pelo prefeito de São Leopoldo, Ary José Vanazzy, o consórcio elabora projetos em busca de recursos para a recuperação do rio. Uma das conquistas mais importantes foi a inauguração da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), no bairro Feitoria, em São Leopoldo, no dia 5 de fevereiro deste ano, com a presença do presidente Lula. A ETE-Feitoria realiza o tratamento de 50% do esgoto do município de São Leopoldo e foi construída com verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Saneamento, com investimento de R$ 10 milhões.

Projetos para aprender a cuidar do rio
Não só de disciplinas como português e matemática se faz uma sala de aula. Diante da situação grave em que se encontra a natureza, a preocupação com a educação ambiental virou tema constante dentro do currículo escolar. Um desses exemplos é o Projeto Dourado, inicialmente batizado como Peixe Dourado, em referência à uma das espécies do Rio dos Sinos. Ele é desenvolvido em 13 escolas da região desde 2002, ensinando na teoria e na prática como cuidar bem do nosso rio.

A Escola Municipal de Ensino Fundamental 25 de Julho, de Campo Bom, seguidamente leva seus alunos para as margens para que eles façam o levantamento da poluição, conscientizem moradores e ajudem na limpeza do lixo, que por vezes vira bolsa, flores, marcador de página, enfeites, vasos de plantas, tudo confeccionado pelos próprios alunos. O Projeto Dourado é mais uma prova das lições que o Rio dos Sinos nos dá: "Lá em casa sempre digo quando se lava a louça: mãe, vê se poupa água né!", conta a estudante Tauany Gonçalves, 9 anos.

Martim Pescador
Outra iniciativa importante para a região é o Instituto Martim Pescador, Movimento de Preservação da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Foi criado em 2002 para orientar a população quanto ao uso racional dos recursos hídricos, além de patrocinar estudos e pesquisas dirigidas à defesa do meio ambiente. Uma de suas principais atividades é um barco tipo catamarã que é uma verdadeira sala de aula flutuante, levando a comunidade a passeio no rio e, ao mesmo tempo, mostrando a realidade.

- O Jornal NH propôs às crianças da Escola 25 de Julho uma redação para a seção Pra Criança sobre o Projeto Dourado. A professora coordenadora do projeto, Margarida Telles da Cruz, elegeu o texto das alunas Tais Carolini Schuster, 8º ano e Geovana Dal Piáz Lewe, 4º ano.

ENTREVISTA: Arnaldo Luiz Dutra

"A água não pode virar mercadoria"

O diretor geral da Comusa – Serviços de Água e Esgoto de Novo Hamburgo e também presidente da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento, Arnaldo Luiz Dutra, no Dia Mundial da Água, fala sobre a situação dos bens hídricos no futuro. Sua maior preocupação é a privatização da água, caso o uso continue no mesmo ritmo. Sobre o Rio dos Sinos, de onde a Comusa retira 100% do abastecimento, Dutra reconhece que a situação é preocupante, mas que o futuro aponta para boas novas que poderão deixar a população mais tranquila, porém, sempre vigilante.

Como você vê a questão da água num futuro próximo?
Arnaldo Luiz Dutra -
Volta e meia surgem discussões acerca de que grandes empresas privadas enxergam no Brasil um manancial riquíssimo para se tornar privados e ficar nas mão de grandes monopólios. Se a população seguir crescendo, e levando em conta que nosso planeta foi muito mal tratado, em um curto espaço de tempo teremos problemas de ocupação na Terra em função da água. Mas a água não pode virar mercadoria! Nós, Comusa, somos autarquia. Num sistema privado haveria o componente lucro, elevando muito os custos para se ter acesso aos recursos hídricos.

A Comusa utiliza 100% da água do Rio dos Sinos. Como está o nosso rio hoje?
Dutra -
Desde a chegada dos primeiros colonizadores, ele já não recebia o tratamento adequado. Passados tantos anos, hoje tem um equilíbrio muito frágil. Toda a poluição vem dos arroios que despejam esgoto no rio, principalmente o Luiz Rau. Em contrapartida, nunca se discutiu e investiu tanto na recuperação da bacia. Hoje, São Leopoldo é o município que mais trata esgoto na bacia, o que corresponde a 50% do total.

Quais os investimentos da Comusa para melhorar a situação do rio?
Dutra -
Temos R$ 107 milhões em recursos do governo federal para aplicar no Arroio Luiz Rau e na bacia do Arroio Pampa. Serão construídas redes de esgoto cloacal que vão permitir que Novo Hamburgo salte dos 2% de esgoto tratado que tem hoje para 80% em quatro anos. A licitação deve ocorrer em maio. As obras, se tudo correr bem, devem começar neste semestre. Outro investimento será de R$ 23 milhões, de um projeto que está sob análise da Caixa Federal. A intenção é substituir a captação do rio, que já tem mais de 30 anos. Hoje são captados 760 litros por segundo e, com a obra, seriam mais de mil litros por segundo. Isso nos dá garantia de abastecimento para os próximos 20 anos.

A impressão que se tem é que se perdeu muito tempo poluindo o Rio dos Sinos sem preocupação. Hoje parece que há uma corrida atrás do prejuízo. Você concorda?
Dutra -
Durante muito tempo ouvimos o discurso político de que "enterrar cano" não dava voto. Esgoto não aparece, então não faz. E isso é um fato que muda e hoje a sociedade cobra muito, não só esgoto, mas programas de tratamento e coleta de lixo, aterros sanitários corretos... Há um despertar sobre a questão do planeta.

O Dia Mundial da água pode ser comemorado?
Dutra -
Com certeza. Durante 20 anos ficamos sem recurso público para saneamento, desde o fim do Planasa (Plano Nacional de Saneamento) no fim da década de 80 até 2003. Simplesmente não havia dinheiro para fazer esgoto e hoje temos cenários mais otimistas que me dão a certeza que a gente pode melhorar. Agora temos de estar vigilantes para não voltar atrás.

Quais as lições que o Rio dos Sinos nos dá?
Dutra -
Que o ser humano precisa se integrar ao Rio dos Sinos. Se pode sim ter uma relação bem melhor com o rio. Estamos caminhando para isso com os recursos a serem investidos, a criação de organizações, projetos de recuperação, são ações importantes que podemos comemorar. Com certeza aprendemos muito, pois saímos da fase de fechamento de empresas por poluição para discussões sobre consciência ambiental.

(Por Patrícia Pinto Lemos, Jornal VS, 23/03/2010)

 


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