Trabalhadores da Fibria, empresa do agroneegócio resultado da fusão da Votorantim Celulose e da Aracruz, no Espírito Santo, prometem parar a produção na unidade Aracruz (antiga Barra do Riacho) caso a empresa não retome negociações acerca do acordo coletivo. Na semana passada, o grupo aprovou um plano que aponta ações de paralisação da produção.
Não bastasse destruir o meio ambiente, transformando estados brasileiros em desertos verdes de eucaliptos e expulsando populações tradicionais, a Aracruz/Fibria agora ataca seus trabalhadores, retirando os direitos trabalhistas adquiridos nos últimos 30 anos.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Químicos e Papeleiros do ES (Sinticel), Artur Duarte Branco, a entidade encaminhou na sexta-feira (19) carta à direção da Fibria, informando que se não houver retomada das negociações até o dia 25 (quinta-feira), quando está prevista uma reunião de mediação na Superintendência Regional do Trabalho, os trabalhadores entrarão em greve.
“O impasse pode levar os trabalhadores a paralisações de protesto, ocasionado prejuízos na produção, já que o estoque de madeira é o mais baixo desde que houve a fusão dos grupos Aracruz Celulose SA e Votorantin Celulose e Papel (VCP) e o surgimento da gigante Fibria”, afirma Artur.
De acordo com o dirigente, a Fibria não respeita o acordo coletivo, que em duas ocasiões foi rejeitado pela assembléia. Conforme Branco, a companhia teria instituído à revelia dos funcionários a coparticipação no pagamento de 25% no plano de saúde e no seguro de vida e reduzido de 40% para 33,3% o abono de férias, conforme previsto na lei.
A Fibria informa que a proposta final do acordo rejeitada pelos trabalhadores foi discutida em 11 rodadas de negociação e o estado de greve decidido na sexta-feira foi deliberado em reuniões restritas, por grupo que representa apenas 8% do efetivo.
Desde que a Aracruz Celulose apostou na especulação cambial (derivativos) e perdeu R$ 3 bilhões, os trabalhadores e trabalhadoras são as maiores vítimas.
A compra da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP) por R$ 5,4 bilhões, que resultou na Fibria, só foi possível porque o BNDES - um banco público - deu R$ 2,4 bilhões à VCP. Isso representou 40% do valor do negócio, deixando assim as famílias Ermírio de Moraes e as donas da Aracruz com seus patrimônios preservados e engordados.
Depois de receber os bilhões do BNDES - o dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador - a primeira atitude da Aracruz/Fibria foi demitir. Em março de 2009, 140 papeleiros foram dispensados. Não houve responsabilidade social, já que a maioria dos demitidos está lesionada. Não usou as formas legais de preservar o emprego, como férias coletivas ou licenças remuneradas. Ao longo de 2009, dispensou perto de 200 pais e mães de família.
(MST, com informações do Valor Econômico, 23/03/2010)