Povos de várias partes do mundo celebram hoje (22) o Dia Mundial da Água. Aproveitando as discussões deste dia, a Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI) divulgou, hoje, um comunicado em que rechaça a privatização da água e reafirma o compromisso de promover a adoção de uma Declaração Universal de Direitos da Mão Terra.
De acordo com a declaração da CAOI, mesmo com o estabelecimento do dia 22 de março como Dia Mundial da Água e de outras ações para conscientizar a população sobre a importância dela para a vida dos seres vivos, a água continua a ser um bem explorado e mercantilizado pelos Estados "como parte da imposição do neoliberalismo extrativista".
"Nos países da Região Andina e em todo o Abya Yala se debatem hoje projetos de lei da água tendentes a sua privatização. Ao vê-la como um ‘recurso’, priorizam seu uso para atividades extrativas, como a mineração, que não só a monopoliza e consome em enormes volumes, como também contamina irreparavelmente suas fontes", afirma.
De acordo com o comunicado, os povos indígenas vão de encontro a essas políticas, pois defendem a água da privatização e da contaminação. "Hoje é mais urgente que nunca recuperar para todos o Bom Viver em diálogo e harmonia com a Mãe Natureza para salvar as fontes de água que farão possível a sobrevivência da vida", considera.
A necessidade urgente dessa recuperação não é exagero da Coordenadora. Isso porque, segundo o comunicado dela, a crise climática já provocou efeitos na natureza, como o início do desaparecimento dos glaciais andinos. Por conta disso, CAOI sugere, neste Dia da Água, que o mundo comece a ter a mesma visão que os povos indígenas têm em relação à água.
Para CAOI, a água é um ser vivo e, por isso, não pode ser considerada como um "recurso" ou como um "objeto". A água, assim como qualquer ser vivo, deve ser tratada com respeito. Além disso, para os indígenas, ela é um ser sagrado: "A água provém de Wirakocha, fecunda a Pachamama e permite a reprodução da vida. É, portanto, um ser sagrado que está presente nos lagos, nas lagoas, no mar, nos rios e em todas as fontes".
Também é base da reciprocidade e da complementaridade, pois permite a integração dos seres vivos e a relação do homem com a natureza. Na visão dos povos indígenas, ela também atua como ser criador e transformador, e como recreação social.
(Por Karol Assunção, Adital, 22/03/2010)